Opinión

O EDUCADOR CARVALHO CALERO NA LEMBRANÇA

Hoje, dia 30 de outubro de 2010, cúmprem-se os cem anos do nascimento em Ferrol do grande galeguista, literato, filólogo e educador, Dom Ricardo Carvalho Calero. Com motivo do seu centenário, pola manhá em Compostela será descoberto na Alameda, pola Fundaçom Meendinho, um busto em bronze de galego tam preclaro. E alí, entre outros, vou estar para render homenagem bem merecida a uma pessoa que sempre apreciei e valorei. Como filólogo, infelizmente nom lhe deixaram ser o nosso Pompeu Fabra. Mas os que sim o apreciamos o consideramos como tal. Já tenho escrito no nosso La Región vários artigos nos últimos tempos dedicados à sua figura tam respeitável, tam importante, tam digna e tam senlheira. Esta vez quero falar de uma sua faceta muito pouco conhecida e, sem embargo, de grande importância e interesse. Quero escrever sobre o seu labor de pioneiro pedagógico, como um educador modélico que seguia os princípios educativos da Instituiçom Livre do Ensino (em adiante ILE), criada por Francisco Giner de los Rios em 1876, com a colaboraçom de outros professores. E continuada polo grande pedagogo, discípulo seu, Manuel Bartolomé Cossío. Considero este movimento pedagógico como o mais importante que houve na Europa até meados dos anos trinta, em que foi proibido polos fascistas. Dom Ricardo conhecia perfeitamente o pensamento educativo de ambos e levou-no à prática no Colégio Fingoi de Lugo, que dirigiu desde 1950, até que entrou como professor de língua e literatura galega na Faculdade de Filosofia e Letras compostelana a finais dos sesenta. Primeiro como interino e logo como catedrático, o primeiro da nossa universidade para ensinar a nossa língua. Que continuou ensinando por médio de estratégias didácticas renovadoras e institucionistas. Tambem foi muito importante para a sua formaçom pedagógica o ter sido, desde abril de 1927 até 1936, membro activo do Seminário de Estudos Galegos (SEG), ocupando por bastante tempo a sua secretaria geral. Lamentavelmente, a dia de hoje, aínda nom recuperamos os galegos esta interessante instituiçom. Como sim o fizeram, com as suas respeitivas, bascos e catalaes.


Podemos considerar a Carvalho por todo isto como o verdadeiro pioneiro da renovaçom pedagógica da escola galega. O que pudo fazer, em anos tam duros como os cinquenta, num centro privado de vanguarda como o Fingoi lucense. Com o apoio do empresário filántropo António Fernández López, que inscreveu os seus filhos e os dos seus amigos e irmaos neste centro, criado com a sua ajuda económica. Ao mesmo, como docentes e/ou alunos estiveram vinculados Avelino Pousa Antelo, que dirigia a Escola-Granja de Barreiros, e os artistas e literatos Méndez Ferrín, Bernardino Granha, Arcádio López Casanova, Ângelo Joham, Pácios, Ana Mª Pardo e o nosso grande amigo e auténtico artista Carlos Varela Veiga. No centro dirigido por Dom Ricardo púnham-se em prática os métodos educativos e as técnicas didácticas da ILE e tambem do grande mestre galo Celestin Freinet. Entre elas devemos destacar o fomento da expressom teatral, organizando com os alunos diferentes representaçoes dramáticas ao largo do curso, para as que ele próprio chegou a escrever várias obras e farsas. A investigaçom do entorno sócio cultural e natural, por médio de trabalhos em grupo, seguindo o modelo da biblioteca do trabalho, elaborada polos próprios estudantes. A organizaçom de obradoiros variados, para despertar afiçoes positivas entre os alunos e fomentar o amor polas artes. Por isso nom deve extranhar que sairam deste colégio modélico, interessantes pintores, escultores, literatos e cineastas. A organizaçom de saídas, passeios escolares e excursoes educativas, realizando roteiros previamente programados, para estudar in situ a geografia, a história, a arte e o médio natural. Buscando, com estas estratégias didácticas, fomentar entre os alunos o amor pola nossa cultura, e lograr aprendizagens reflexivas, apreciativas e nom abstractas. Porque, com a intuiçom, a participaçom activa, o jogo e os métodos cooperativos, é como melhor se logra a formaçom intelectual, estética e humana dos rapazes. E se a isto lhe sumamos a alegria, a bondade e as palavras sempre agradáveis e ilusionantes de Dom Ricardo, temos feita a verdadeira obra pedagógica dum pioneiro da escola moderna como ele. Por isso nom deve extranhar que, quando se organiza no paço de congressos de Montjuic-Barcelona, em dezembro de 1983, o primeiro Congresso de Movimentos de Renovaçom Pedagógica do Estado Espanhol, polos seus grandes merecimentos, Dom Ricardo foi convidado para estar presente nas diferentes actividades do mesmo. Eu formava parte da comissom organizadora do mesmo e realicei a proposta de convite, que me foi aceite. Foi um verdadeiro prazer te-lo entre nós durante a semana que durara o programa, e que fora encerrado polo grande ministro Maravall. Guardo excelentes lembranças destas datas com Dom Ricardo, sempre alegre, entusiasta e agradável. E aínda me lembro quando visitamos o centro galego da capital catalana. Como me lembro tambem quando o levei, na década dos oitenta, no meu auto, à bela localidade portuguesa de Amarante, ao lado do rio Tâmega. Ali celebráva-se um Encontro de Poesia em Primavera. Carvalho pronunciara uma formosa conferência, que permanece aínda hoje na minha memória. Falara de que Galiza e Portugal som um mesmo povo, com uma língua e uma cultura comuns. Quánta razom tinha Dom Ricardo!. Um homem que há permanecer sempre na nossa memória e no nosso coraçom. E esperamos que, muito mais cedo que tarde, se lhe rinda polas instituiçoes públicas a homenagem que bem merece.

Te puede interesar