Opinión

Bandel, cidade portuguesa de Bengala

Os exploradores portugueses dos séculos XVI e XVII penetraram polas águas do Hugli, o grande rio de Kolkata, afluente do Ganges, fazendo a descoberta da cidade calcutenha e tramos mais acima a cidade de Bandel, no distrito de Hugli, um dos mais formosos de Bengala. A uns 12 quilómetros de Bandel está Chandernagor, antiga colónia francesa.


Bandel é a localidade com maior presença portuguesa em Bengala mesmo na actualidade. Por isso numa quarta-feira, acompanhados polo nosso estudante Toton Kundu, fomos a Bandel em comboio desde Santiniketon. Saímos às 8:15 horas e às 10:30 estávamos em Bandel, depois de passar por Bordhomam. Visitamos primeiro a basílica portuguesa da cidade dedicada à ‘Nossa Senhora da Boa Viagem’, construída em 1599 e com muitas reformas posteriores. Todos os dias é visitada por infindade de pessoas de todas as idades. Como é lógico a maioria dos que assistem som cristãos. Sem embargo é muito normal ver também hinduístas, que som os mais respeitosos com os cultos de todas as religiões indianas. Ao lado existe um amplo campo verde em que numerosos romeiros vam com as suas famílias ao completo organizando comidas campestres. Resulta muito pintoresco ver estas reuniões de romeiros que antes vam fazer a oferenda à Nossa Senhora de Bandel ou Senhora da Boa Viagem. Por isso na imagem vai sobre uma grande barca (em forma de nao antiga) e com coro de anjos. Ao vê-la pensamos imediatamente na Nossa Senhora da Barca de Mugia.


A história de Bandel começa com o primeiro assentamento português em Bengala. Em 1537 o almirante Sampaio, acompanhado polos seus marinheiros, é o primeiro que navega polo Hugli, rio arriba, e chega a Bandel. Com habilidade consegue a colaboraçom dos reis mongois locais. Em 1579 os portugueses construem um porto na ribeira do rio, que também visitamos. Em 1580 o capitám Pedro Tavares, com grande inteligência, logra a liberdade de culto cristão, a sua publicidade e o poder construir igrejas. Este poder outorga-lho o grande imperador mogol Akbar, considerado na Índia como o mais importante governante da história do país. Pedro Tavares logra ademais ser o favorito de Akbar, sendo muito apreciado por este. Por isso, em 1599 pode levantar-se esta grande igreja parecida a uma catedral e também o monastério anexo que hoje mantêm os Salesianos, com funcionamento de escolas seguindo o modelo de João Bosco.


Sem embargo em 1622 o príncipe Harun levanta-se contra o governador português de Hugli, Miguel Rodrigues, e som distruídos os templos cristãos. Quatro anos mais tarde o imperador Shah Lhahan, ordena ao chefe de Bengala o extermínio das pessoas e vestígios portugueses. Anos mais tarde, em 1640, o frade português da Cruz consegue abrandar o coraçõm de Shah Lhahan e permite recuperar templos das suas ruínas e constuir novos assentamentos lusitanos. O governa dor de Bengala em 1646 confirma o direito à possessom das suas terra aos portugueses. Em 1670 a grande igreja de Bandel é ampliada. Em 1690 alguns portugueses, acompanhados polo británico Job Charnock estabelecem igrejas em Kolkata e a catedral de que antes falamos. Ademais de Bandel, estabelecem-se outros templos em Chinsurah e Serampore. Frente à catedral de Bandel, na qual nos seus altares existem também as figuras da Nossa Senhora do Rosário e de Fátima, Santo António, Sam José, a Sagrada Família e outras, em 1870 construem-se a Escola de Sam João, que ainda funciona hoje. E que nos lembrou ao nosso pai que se chamava João. Percorremos também as ruas da localidade e encontramos muitas casas antigas de estilo arquitectónico e colonial português, com as suas típicas varandas. Tiramos muitas fotos de casas e pessoas. Em 1998, o dia 25 de Outubro, o governador de Bengala A. R. Kidwai visitou a Basílica e inaugurou o ano de actividades para celebrar o seu quarto centenário. Os actos concluiram em 14 de Novembro de 1999. Na livraria da Basílica compramos livros, fotos, postais e folhetos. Um dos livros que compramos é muito curioso e interessante. Escrito em inglês leva por título Bandel Church and Hooghly e foi escrito polo frade S. A. Carvalho (Sebastião de Assis Carvalho). A sua primeira ediçom é de 1972. Apresenta informações muito interessantes sobre a presença dos portugueses em Bengala desde os primeiros tempos até finais do século passado. Entre outros, na bibliografia que apresenta ao final, aparece um livro de J. J. A. Campos em inglês sobre a história dos portugueses em Bengala, publicado por primeira vez em Kolkata no ano 1919.


(*) Professor Titular da Faculdade de Educacom de Ourense

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