Opinión

CARLOS VÁZQUEZ, MAGNÍFICO PROFESSOR E LIVREIRO

Eu tivem a sorte de ter como professor na Escola Normal, na década dos sesenta, a um professor enormemente agradável, com uma grande empatia e sempre com humor. O que naquela altura era uma bençom divina. Carlos Vázquez, tambem importante livreiro ourensano, foi professor meu de Língua e Literatura Francesa. Todas as lembranças que de ele tenho som muito agradáveis e positivas. Acho que companheiros meus de promoçom devem compartir conmigo a mesma sensaçom e sentimento. Os dous Gonçalos Fernández e Sueiro, César Varela, Bieito Batán, Ocampo, Modesto Hermida e outros muitos. A minha companheira Ana, tambem aluna sua já antes no Instituto do Possio, coincide plenamente com a minha apreciaçom. Das suas ensinanzas o que melhor lembro é o bem que nos ensinava a pronunciar de forma adeqüada a língua de Molière, de Victor Hugo, de Gide, de Stendhal e de Balzac. Sem embargo o mais admirável em ele, que eu recordo muito bem, era como nos abria os olhos, naqueles tempos oscuros e noitébregos, contándo-nos infinidade de anecdotas, cheias de encanto e de humor. Muitas referidas à nossa cidade e a temas ourensanos. Aqueles comentários seus tam bem expressados nas aulas, rompiam positivamente os habituais temas aborridos das classes. Eram como um manancial de água fresca, que ficavam permanentemente na nossa memória e faziam que as suas aulas foram atractivas, agradáveis e luminosas. A sua estratégia didáctica principal era o humor, pois nunca estava enfadado e por isso todos nos encontravamos a vontade com ele. Entre as muitas das suas anecdotas, lembro como quando liamos alguma palavra que tinha diérese e, se nos equivocavamos, sinalava 'esas duas cagadinhas de mosca estam aí para algo!' Com um comentário tam humorístico já, no futuro, ninguêm se podia esquecer do tema e, como o fazia com muita graça, sempre sentava bem. Especialmente porque em muitas outras aulas de outros docentes, o autoritarismo dos mesmos era tam elevado, que mesmo tinhamos, mais que medo, pánico. Carlos, todo um demócrata, fazia das suas aulas algo balsámico em aqueles tempos da nossa mocidade. Formosos eram aqueles seus chistes sobre temas reais, que provocavam um grande sorriso. Entre eles, lembro quando nos contou que houvera um alcaide da cidade que era tam mediocre que queria tirar a ponte velha para eliminar o cámbio de rasante. As nossas gargalhadas aínda podem escoitar-se hoje. Ou quando, depois de beber o bom vinho do Ribeiro, numas festas maiores, desde a varanda do nosso concelho, outro famoso alcaide chamáva-lhes aos piragüístas do descenso do Minho em canoa, paragüistas. Seria por aquilo de ser a nossa, terra de afiadores e paragüeiros.


O magistério de Carlos Vázquez nom terminava nas suas fantásticas aulas da Normal, onde tuvemos outros grandes docentes (Carmen Lucas, Albendea, Concepción Sáinz, Criado, Don Bruno, Salgado Valdés, Mª Luisa Lorenzo, Glória Vidal). Continuava na sua livraria da rua do Passeio. Os que sempre gostamos da leitura e tinhamos amor polos livros, acudiamos com grande prazer a Tanco dia sim e dia tambem. Quantos livros merquei eu nesta livraria! Que fomentaram em mim o prazer por lêr. Carlos estava sempre com humor. Era fantástico conversar alí com todos, e em especial com Carlos. Com Manolo, que sempre foi um computador ambulante dos livros e, por sorte, aínda está hoje nesta livraria, agora noutra rua. Ele pode, se quere, contar muitas cousas. A contabilidade levava-a o poeta Tovar, daquela maneira, porque ele era esencialmente poeta. Do que estou a dizer, podem testimunhar tambem Vicente R. Gracia, Gonçalo Iglésias Sueiro, Santiago Lamas e outros muitos, que acudiam a diário a beber da cultura dos livros de Tanco e que hoje têm, nos temas dos que gostam, fantásticas bibliotecas particulares. Carlos era um magnífico livreiro que na sua trastenda tinha para nós, naqueles tempos, verdadeiros tesouros, expóndo-se a muitas repressálias políticas (e fronte ao Governo Militar!). Graças a ele pudemos ler os livros proibidos das editoras Era, Ruedo Ibérico e os da nossa emigraçom em América. Tenho um agradecimento profundo para Carlos por todo o que me ensinou e por facilitar-me o poder lêr o Sempre em Galiza de Castelao na ediçom de Bos Aires, que guardo como ouro em pano. E os três volumes da História de Galiza, coordenada por Otero Pedraio.Tambem de Castelao o album Nós, Milicianos e Atila em Galiza, ficando muito impressionado quando pudem lêr Galicia Hoy, da editora Ruedo Ibérico, que há pouco tempo me inteirei que um dos autores, com seudónimo, era Isaac Diaz Pardo, o meu grande amigo que muito aprécio. Como bem aprécio a memória do meu mestre da Normal e da Tanco, Carlos Vázquez, para o que en justiça solicito que a nossa cidade leve adiante a homenagem que merece desde já fai. Porque ademais foi um importante impressor, com a sua famosa imprenta de nome 'Gráficas Tanco'.

Te puede interesar