Opinión

As festas de Ourense e o cinema

Eu vinhem a estudar a esta cidade que tanto amo em outubro do ano 1963. Desde esse momento moro em Ourense, onde tambem trabalho. Aquí me namorei e me casei e aquí nasceram os meus três filhos, que junto com a minha esposa, som tambem ensinantes. De 1964 a 1971 vivim na casa nº 6 da rua de Dous de Maio. Isso permitiu-me viver muito em directo em aqueles anos o maravilhoso ambiente das festas maiores da nossa cidade. Porque a maioria dos actos tinham como cenário o jardim do Possio e as lindas praças do nosso casco velho. Lembro com nostálgia os passaruas, os gigantes e cabeçudos e os grupos de gaiteiros que percorriam todos os lugares. E com nostálgia tambem os bailes nouturnos, o fantástico festival da cançom do Minho e os chamados festivais de Espanha no jardim. E as actuaçoes diferentes e tam animadas dos títeres e fantoches, na praça dos Coiros ou de Sam Marcial. A batalha de flores era sempre um número impressionante, a anos-luz da actual. Aquele festival, onde se deu a conhecer, entre outros, Víctor Manuel, foi produto do formoso trabalho levado a cabo por Manuel Rego Nieto, felizmente aínda entre nós. Quánto lhe devemos todos os ourensanos a Rego! A sua etapa como concelheiro e como responsável das nossas festas foi enormemente brilhante. Eram tempos de políticos dignos que respeitavam a cidadania e nom utilizavam o cárrego para lucrar-se.


Em 1971, graças ao entusiasmo do seu primeiro presidente Emílio Losada, nasceu na Escola Normal o Cine Clube ‘Padre Feijóo’. Nesse ano licenciei-me em pedagogia pola Complutense, e estivem como professor no Instituto, hoje com o digno nome de ‘Otero Pedraio’. Em 1972 passei a ser professor da Escola Normal, onde antes fora aluno de grandes professores. E, como gostava tanto do cinema, integrei-me de imediato no cine clube. Tinhamos as sessoes no Cinema Mari, hoje desaparecido, e nos Salesianos. Graças à positiva atitude de Rego, continuada logo por Gómez Andelo, pudemos organizar dentro das festas de Ourense as Mostras Cinematográficas de Arte e Ensaio. Que foram um sucesso extraordinário. Chegando a encher os locais onde se celebraram. Na primeira ediçom de 1973, que teve lugar na sala de actos dos Maristas, o filme de Visconti ‘Morte em Venécia’, houve que projectá-lo três vezes para que o pudessem visionar os ourensanos amantes do cinema de qualidade.


Outros dos filmes que muito gostaram em sucessivas ediçoes foram ‘Corno de cabra’ do búlgaro Andonov, ‘Blow Up’ de Antonioni, ‘A boda’ e ‘A terra da grande promesa’ de Wajda, ‘Jogos de noite’ de Zetterling, ‘A caida dos deuses’ de Visconti, ‘O conformista’ de Bertolucci, ‘O siléncio’ e ‘A flauta mágica’ ambas de Bergman, ‘Joe Hill’ de Widerberg, ‘Allonsanfan’ e ‘San Michele aveva un galo’ dos Taviani, O amigo americano’ de Wenders, ‘A ârvore dos zocos’ de Olmi, ‘A grande bouffe’ de Ferreri, ‘Lucia’ de Solás, ‘Nove meses’ de Marta Meszaros e ‘Pirosmani’ de Shenguelaia.


Grandes críticos cinematográficos, como Norberto Alcover da revista ‘Reseña’, Fernando Lara de ‘Triunfo’ e César Santos Fontenla do jornal ‘Informaciones’, apresentaram e dirigiram os colóquios em algumas das ediçoes, que se celebraram nos Salesianos, no ‘Xesteira’, no ‘Avenida’, no ‘Pequeno Cine’ da rua de Reza e na Casa de Cultura da rua do Concelho. No 1979 nom se celebrou a Mostra e nas ediçoes 6ª e 7ª de 1978 e 1980, já nom se contou com a ajuda da comissom de festas, pola falta de apoio e sensibilidade de Trapote e Manolo ‘Arnoia’. Paralelamente às mostras de maiores, organizaram-se tambem as mostras de cinema infantil, tendo como cenário a sala dos Salesianos. As crianças ourensanas, nas cinco ediçoes celebradas, puderam disfrutar naquela época de filmes muito lindos, com grandes valores humanos e sociais do cinema checo, polaco, húngaro e sueco. Nacionalidades que cuidavam muito o cinema para crianças e o promocionavam. Naquela altura o cinema de desenhos animados era de grande qualidade formal e tambem polo seu conteúdo. Entre todos destacava o director checo Jíri Trnka e o canadiano Norman Maclaren.


Já ao ar livre, lembrando o lindo episódio do Cine Airinhos da cidade, o cinema nas festas foi recuperado por esse grande concelheiro de cultura que foi Balbino Álvarez, recentemente desaparecido. Os primeiros anos na Praça do Sam Martinho, e logo na explanada das Burgas, enchiam-se os espaços de gente polas noites para disfrutar dos filmes de aventuras e do cinema cómico dos irmaos Marx, de Keaton e Chaplin. Eram outros tempos e outras gentes.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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