Vêm de falecer em Calcutá uma das mais importantes intérpretes das cantigas de Robindronath Tagore. Suchitro Mitro nascera o 19 de setembro de 1924 e faleceu o 3 de janeiro do presente ano, com 86 anos de idade. Era a última intérprete importante que conheceu em vida a Robindronath e estudou na sua Faculdade de Música, Teatro e Dança de Santiniketon. Foi ademais professora de música das universidades mais importantes de Kolkata, a Iadavpur e a Robindro-Bharoti. Por duas vezes teve eu a oportunidade de estar com ela aquí onde agora me encontro. Tenho vários dos seus CDs por ela assinados, que conservo na minha biblioteca de Ourense. Ela preferia cantar aquelas mais nostálgicas e intimistas.
Porque Robindronath, que é o autor da letra e música dos hinos de Índia e Bangladesh, chegou a compor mais de duas mil quinhentas cantigas sobre todo tipo de temas. Muitos dos seus cantares é um prazer escoita-los. Bem na voz dos intérpretes masculinos, como das femininas. Em Bengala é um verdadeiro furor a venda de CDs da música de 'Robindro Songuit', que constitue um gênero musical autónomo em sim mesmo. O repertório de Tagore é amplíssimo e os intérpretes, homens e mulheres, som muito numerosos. Na minha biblioteca Tagore devo ter mais de mil CDs de Robindro Songuit. Infelizmente em Espanha quase que nom se conhece a faceta musical tagoreana. Tagore gostava muito da música e dos cantares de Irlanda, da que receveu nom poucas influências. Tambem gostava, o que nom deve extranhar-nos, da excelente música de Bach. Por isto, muitas das suas canções foram compostas por ele em Alemanha, nas várias viagens que realizou a este país.
Tal como comentei, som infinidade os intérpretes das suas cantigas, tanto na Bengala indiana, como em Bangladesh. Se tenho que escolher, para o meu gosto, os melhores intérpretes, entre os cantantes, som Sirikanto Acharyo, Sumon Kobir, Kishore Kumar, Hemonto Mukjopadhay e Debroboto Biswas. Entre as vozes femininas, as da minha preferença som Indrani Sen, Lopamudra Mitro, Suchitro Mitro, Konika Bondopadhay e Rewana Choudhury, esta professora de música na universidade de Daca, que tenho a sorte de conhecer e contar com a sua amizade. Ademais é uma mulher de simpatia e beleza singulares.
Todas as cantigas de Robindronath estam publicadas num grosso volume, baixo o nome de Guitobitan. Esencialmente, poderiamos classificar as suas cantigas arredor de seis temas fundamentais.
Em primeiro lugar, temos os cantares de tipo devocional ou sagrados, baixo o epígrafe de 'Puya'. Som todas aquelas cantigas que Tagore compûs para as diferentes celebrações religiosas, hinduístas, budistas e de outras. Por exemplo as dedicadas às deusas Durga, Sorosoti (da sabedoria), Kali, as do Brahmo-Somalh e as dos deuses Krixno (do amor) e Vixnú. Num segundo tema, encontramos as muitas dedicadas ao amor, que seguramente som as mais lindas de todas, e acolhem-se baixo o nome de 'Prem', palavra que em Bangla significa amor. Num terceiro campo estam as denominadas 'Swadesh', que som todas aquelas cantigas nacionalistas e patrióticas, entre as que temos os hinos de Índia e Bangladesh.
Um quarto tema muito importante, é o das cantigas relativas à natureza e as suas belezas, as estações do ano, o sol, a lua, as estrelas, os monções ou as chuvas. Som muitas e representam a homenagem de Tagore à natureza, que em Bangla se diz 'Prokriti', nome com o que se conhece este tema dos cantos tagoreanos. Baixo o nome de 'Bichitra', que lembra as actividades culturais que se celebravam no paço Thakurbari dos Tagore em Calcutá, se incluem cantigas variadas sobre muitos temas. Por último, temos as incluidas no epígrafe 'Guitinatya' e 'Nritya', que som todas aquelas incorporadas às suas diferentes obras teatrais, nas que se canta e dança, e as das suas óperas-drama. Das que eu destacaria Falguni ou Ciclo da Primavera, Balmiki Protibha, Sorodoutsov, Riturongo, Taser Desh ou O reino das cartas e a trilogia de óperas budistas Chondolika, Chitrangoda e Shyama. Esta última foi estreada no festival de cinema de Ourense em soporte digital, sob a direcçom de Obhi Chatterji, e a actuaçom como dançarina principal da sua esposa Kaberi. Os dous, que em outubro estuveram em Ourense, estam a filmar em Santiniketon as outras duas óperas citadas.
A melhor maneira, sem embargo, de disfrutar da música e cantigas tagoreanas, é escoitar os múltiples CDs que existem de Robindro Songuit. Quando escrevo ou leio, aquí em Santiniketon, ou logo na minha biblioteca ourensana, escoito sempre as cantigas de Tagore. Cheias de doçura e sensibilidade, que transmitem sempre serenidade e vibrações muito positivas. Tam necessárias nos tempos actuais de violência física e mental.
