Opinión

O galego tampouco está em perigo

Agás em território espanhol, onde é uma lingua minorizada (nom minoritária!), o idioma galego nom está em perigo. E aquí o está por levar a cabo desde 1982 uma política lingüística totalmente errada, iniciada com uma norma ortográfica isolacionista. Que nos afasta e nos afastou do tronco lingüístico ao que o nosso idioma pertence: o galaico-luso-brasileiro. Quando a ârvore se planta já torcida é impossível que logo se indireite. Quando a norma se impom por decreto, sem deixar que exista antes um debate civilizado na sociedade, chegamos ao que hoje temos, sendo aínda quase tabú falar disto. Chegamos a este sarilho no que nos encontramos. Chegamos a que os cidadaos, e especialmente os jovens, nom lhe vejam a utilidade à nossa lingua. Que é internacional, é extensa e é muito útil, aínda que lhe moleste a Camilo Franco que digamos isto. E acrescentamos, sem temor a equivocar-nos, que, em todo o processo iniciado a princípios dos oitenta, nunca se teve em conta a psicologia das pessoas. Sempre se usaram os decretos, as imposiçoes, a inquisiçom, nunca se permitiram os debates, sempre se estigmatizou aos discrepantes. Quando mesmo muitas vezes foram perseguidos e anatemizados. Nunca se intentou convencer antes que impor. E este é agora o resultado que temos. De aquelas águas nom limpas, temos agora estes lodos. Embora estamos a tempo de rectificar e fazé-lo é de sábios, como diz o adágio popular.


O galego, que por ai adiante leva o nome de português ou de português do Brasil e dos PALOPs, nom está em perigo. Pois é o idioma oficial de muitos organismos internacionais e de nada mais e nada menos que oito países em todos os continentes do planeta. Na Goa indiana todos os maiores de 50 anos o falam e na nossa Galiza, por lei, é co-oficial com o castelhano. E a isto temos que acrescentar que, ademais de ser o nosso, é um idioma muito lindo. Um idioma no que escreveram, antes de existir o castelhano, os juglares das cantigas galaico-portuguesas de amor, amigo e mal-dizer e Afonso O Sábio nas suas Cantigas de Santa Maria. E logo na renaixença Curros, Pondal e Rosália. Mas em Portugal está o grande Camoens, de antepassados galegos, que escreveu uma obra tam extraordinária como ‘Os Lusíadas’. Que muitos galegos nom sabem aínda que, assim como os portugueses necessitam notas a pé de página para entender o texto camoniano, nós os galegos nom as necessitamos. Logo está o grande Gil Vicente. E já muito mais próximos Teixeira, Castelo Branco, Eça de Queiroz (do que o maior especialista foi o galego Guerra da Cal), Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa, Nobre, Torga e o Nóbel José Saramago. Entre outros muitos do nosso país irmao, terra sempre de grandes escritores, dos que, como muito bem dizia Risco, levaram o nosso idioma por todo o mundo. A África, Goa, Macao, Ceilam, Singapura, Damau, Diu, Brasil e Timor.


Para mim resulta-me um verdadeiro prazer ler na lingua de minha mae Rosa, à poeta brasileira Cecília Meireles, a Graciliano Ramos, a Drummond de Andrade, a Guimaraes Rosa, a José de Alencar, a Guilherme de Almeida, a Abgar Renault e, em especial, a Jorge Amado. Que aínda nom compreendo bem porque nom levou no seu dia o Prémio Nóbel de Literatura, que bem merecia. Quizáves porque os diferentes e mediocres governos brasileiros passados nunca se preocuparam por apoiar a lingua no exterior. Para mim é um grande prazer ver os filmes de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Lima, Babenco, Sales e Meirelhes. E os do português Manoel de Oliveira. Escoitar as cantigas de Vinícius de Moraes, Jair Rodrigues, Gail Costa, Jorge Ben, Leonardo, Maria Bethânia, Luiz Gonzaga, Martinho da Vila, Elis Regina, Caetano Veloso e Chico Buarque. Inclusivê escoitar a Júlio Iglésias quando canta em português do Brasil. E de Portugal Madredeus, Trovante, Maio Moço, Colheita Alegre, Dulce Pontes, Mª Teresa Carvalho, Vitorino e, de forma muito especial, Zeca Afonso, que sempre me encantou. Ou Belaurora das ilhas Açores, Cesâria Évora de Cabo Verde e Bonga de Angola. País natural desse grande escritor que é Pepetela. Qué grande e formosa é a nossa língua galego-portuguesa!


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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