Opinión

O horror de Tagore

Todos os tagoreanos que existimos no mundo, e somos bastantes nos cinco continentes, consideramos a Tagore como o Leonardo da Vinci do século vinte. Porque foi um grande pintor. Porque foi um músico excelente, ao compôr letra e música de perto de três mil cantigas e os hinos da Índia e Bangladesh. Porque foi um prolífico escritor em todos os gêneros literários, merecedor do Prémio Nóbel que lhe otorgou a Academia sueca em 1913. Porque, esencialmente, foi um extraordinário educador, criador em Santiniketon (Morada da Paz) da primeira escola nova do Oriente em 1901. Continuando os princípios educativos das escolas novas europeias e os da antiga cultura indiana das escolas no bosque, em plena natureza. Porque foi um dos primeiros educadores pacifistas do mundo. Porque defendia a igualdade entre homem e mulher e a sua educaçom igualitária. Porque viajou por todo o mundo para divulgar o seu pensamento e para recolher fundos para as suas instituçoes educativas de Santiniketon, Sriniketon e Visva-Bharoti. Porque souvo integrar de forma magistral a unidade e a diversidade ao mesmo tempo, o nacionalismo racional e o universalismo. Porque, acertadamente, defendia a ideia de que Deus estava por cimo de religioes, doutrinas, parcialidades, divisoes, partidismos e sectarismos, tam perniciosos.


Na Índia, esse formoso e imenso país, ao que hai que ir para conhecé-lo e logo poder falar algo de ele, quando se diz ‘Kobi’ (que significa poeta) todos pensam de imediato em Tagore, por ser o poeta sublime. O mesmo quando se diz ‘Gurudev’, porque só Tagore é o mestre excelente, o mestre de mestres, o mestre supremo. Todo isto vem a conto porque hai algúns dias alguêm escreveu, desde uma visom de sectarismo religioso, sem conhecer nem a miléssima parte da obra teórica e prática tagoreana, algo sobre ele. Francisco Umbral e Garcia Márquez, que leram poema e médio de Robindronath, nom gostavam da sua poesia. Estam no seu direito, pois para gostos existem as cores. Mas, os também Prémios Nóbel de Literatura, Yeats, Pasternak, Gide, Rolland, Hesse, J.R. Jiménez, Gabriela Mistral, Pearl S. Buck e Pablo Neruda, admiravam a obra de Tagore. Igual que a melhor poeta do Brasil Cecília Meireles, a argentina Victoria Ocampo, criadora da grande revista ‘Sur’, e Zenobia Camprubí. Os grandes pedagogos Paul Geheeb, Luzuriaga, Montessori, Nieto Caballero, Claparède e Pierre Bovet, apreciavam muito a Tagore. E tantos e tantos outros e outras, escritores, educadores, artistas, filósofos e mesmo científicos como Einstein. Hai um certo tempo estivemos em Compostela com Ignácio Ramonet, director de Le Monde Diplomatique, e, entre outras cousas, comentou-nos que lhe encantavam os contos que escrevera Tagore. Por certo, uma boa quantidade, e todos maravilhosos, sobre os que se têm realizado vários filmes.


Tagore, que tinha uma grande sensibilidade, e intuia com grande desgosto e certa antecedência as guerras, provocávam-lhe grande horror muitas cousas negativas do nosso mundo. As pessoas com maldade, belicosas, ególatras, déspotas e mentirosas. As que falam mal de todos, porque só falam bem de sim mesmas. As sectárias, que só pensam que o seu grupo político ou religioso está na possesom da verdade. As que trabalham pouco e só lhes gosta figurar ou gostam muito do dinheiro. As insolidárias e com falta de lealdade. As hipócritas que nom valoram a amizade adequadamente. Por isso Tagore defendeu sempre e em todo lugar, na teoria e na prática, a bondade, a generosidade e a verdade. E, por isso também, no seu centro educativo, que foi e é laico, celébram-se ao largo do ano as festividades religiosas importantes de todos os cultos que hai na Índia. Para conseguir nos seus alunos o aprécio e respeito por todas as religioes e os seus respeitivos livros sagrados. Mesmo, com o nome de ‘Indira Gandhi’, existe em Santiniketon uma Faculdade Universitária para estudar e respeitar a variedade de idiomas, étnias, culturas e religioes de todo o subcontinente indiano. E combater assim o sectarismo, o belicismo e o fundamentalismo.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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