Opinión

KUROSAWA NO CINE CLUBE

O dia 23 de março de 1910 nascia em Tókio um grande cineasta mundial. Akira Kurosawa, do que vem de celebrar-se o centenário do seu nascimento, está considerado em Ocidente como o director cinematográfico oriental mais destacado. Para mim, junto com o bengalí Ray e os também japoneses Ozu, Mizoguchi, Ichikawa, Kobayashi, Oshima e Kinoshita, é o director mais representativo de Ásia. No Cine Clube “Padre Feijóo” da nossa cidade, a cuja directiva me incorporei em 1972, e na que permanecim até 1997, foram projectados no seu momento os seus mais importantes filmes. E antes já, na década dos sesenta, polo Cine Clube “Minho” no Teatro Principal, aproveitando a filmoteca da Federaçom Espanhola de Cine Clubes. Na década dos setenta, na sala do antigo Cine Mari, dedicára-se-lhe um ciclo a este director japonês. Foram projectados os filmes “O cam raivoso” (1949), de tema policial e estilo neorrealista, e “Rashomon” ou “As portas do inferno” (1950), a sua primeira obra mestra com a que se deu a conhecer em Ocidente no Festival de Veneza de 1951, onde acadau o Leom de Ouro. Também “Os sete samurais” (1954), no que os habitantes dum povo devastado pola brutalidade duns bandidos recorrem a sete mercenários para que os salvem. Tema que também levou ao cinema Sturges em “Os sete magníficos” (1960). O ciclo completára-se com os filmes “O trono de sangue” (1957), adaptaçom ao cinema do Macbeth de Shakespeare, onde se amostra que todo aquilo conseguido mediante o mal, termina mal, e “A fortaleza escondida” (1958), o seu primeiro filme em cinemascope sobre uma formosa lenda nipona do século XVI.

Na “Iª Mostra Cinematográfica de Arte e Ensaio”, celebrada dentro do programa das festas maiores da nossa cidade en junho de 1973, na sala dos Maristas, fora projectado “Ikiru” ou “Viver” (1952), filme muito pessoal no que um pequeno funcionário municipal é informado que tem um cancro e que só lhe restam três meses de vida. Percebendo o vazia que foi a sua vida, empénha-se com todas as suas forças para que um terreno baldio seja transformado num parque onde as crianças possam brincar. A imagem deste funcionário sentado no rim-ram do jardim ocupou a capa do programa e o desenho do correspondente cartaz. Para inaugurar como cinema a sala da Casa de Cultura da rua do Concelho, graças ao apoio do por entom delegado de cultura Amando Prada, o Cine Clube projectara “Dodeskaden” (1970), um formoso filme em episódios sobre a vida dos habitantes dum bairro de lata. Esta fita, nom sei por qué, nom teve sucesso e o seu director, polo fracaso da mesma, esteve a ponto de suicidar-se. Também na mesma sala, na inauguraçom dos focos para poder fazer projecçoes em cinemascope, fora projectado “Dersu Uzala” ou “O cazador” (1975), que eu considero como o mais lindo filme da história a favor da natureza, e que levou o Óscar ao melho filme estrangeiro. Um formoso canto à amizade e ao médio ambiente, que voltou a ser projectado polo Cine Clube “Minho” da ASPGP, que tenho a honra de presidir, no ciclo de Cinema Ecológico. Por este mesmo cine clube, no seu ciclo sobre a Paz, projectou-se “Rapsódia em agosto” (1991), no que se lembra o bombardeio nuclear de Nagasaki. E, no ciclo de cinema educativo, “Madadayo” (1993), último dos seus 31 filmes, no que uns alunos homenageiam ao seu velho professor, após a sua reforma ou jubilaçom. Antes realizara o director nipom outras obras mestras como “Kagemusha” (1980), “Ran” (1985) e “Os Sonhos” (1990). Kurosawa, que faleceu em Tókio o 6 de setembro de 1998, foi um verdadeiro poeta do cinema pola força do seu humanismo e a beleza plástica das suas imagens fílmicas. Recebeu muita influência da narrativa ocidental e teve sempre como mestre a um dos mais grandes cineastas: John Ford. Foi amigo do bengalí Ray e de Antonioni e admirou sempre o neorrealismo italiano.

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