Opinión

Letras galegas para Carvalho Calero

No próximo ano de 2010 celébram-se os cem anos do nascimento e os vinte do falecimento desse grande galego que foi Ricardo Carvalho Calero. O primeiro catedrático de língua galega que tuvemos na universidade compostelana. Carvalho tinha nascido o dia 30 de outubro de 1910 em Ferrol. Morre em Compostela a 25 de março de 1990, com oitenta anos de idade. Todos os anos os da AGAL acudimos a render-lhe homenagem póstuma perante o seu panteom do cimetério santiaguês de Boisaca. Nós tuvemos a sorte de contar com a sua amizade durante os últimos doze anos da sua vida. Era um prazer estar com ele polo seu trato tam humano e agradável e o seu profundo amor por Galiza, o seu idioma e a sua literatura. Pola sua dignidade e a sua clarividência lingüística. Polo seu aprécio polos jovens, semelhante ao que tambem tinha Ben-Cho-Shey. Estuvemos muitas vezes com ele no seu escritório da Faculdade de Filologia. Onde nos acolhia sempre com bondade e alegria. Lembramos com nostálgia aquela juntança durante horas mantida com ele em Ponte Vedra, no Parador de Turismo, para preparar umas jornadas e publicaçom dedicadas ao grande pensador galego Biqueira. Alí estavam tambem Estraviz, Fontenla, Montero Santalha, Regueira, Adela Figueroa e outros. Foi todo um prazer e uma honra levá-lo no nosso automóvel desde Ourense até essa formosa localidade portuguesa de Amarante, ao lado do Tâmega, terra de Teixeira de Pascoaes. Era a década dos oitenta e alí, durante três dias tuvera lugar um Encontro Galaico-Português de Poesia em Primavera. Carvalho receveu a homenagem dos povos irmaos em língua e cultura e pronunciou uma interessante conferência. Na mesma escoitamos-lhe por primeira vez o seu famoso adágio: ‘O galego ou é galego-português ou é galego-castel hano’. Na mesma disertou com esse seu profundo saber e verbo cálido, das línguas peninsulares. Resultado dos três íbero-romanos que nasceram ao norte da península e se extenderam com o tempo cara o sul. O íbero-romano oriental, que deu lugar ao catalam dos países catalaes. O íbero-romano central, pai do castelhano. E o íbero-romano occidental, que engendrou o nosso galego-português. Falara tambem de que nom se podem confundir fala e escrita. Para uma mesma escrita podem existir, e na realidade existem, falares diferentes.


Em dezembro de 1983, polos seus amplos merecimentos, e por considerá-lo o maior vulto da nossa língua e cultura, convidámo-lo a participar no Iº Congresso Estatal de MRPs, que se celebrou no Paço de Congressos de Montjuic em Barcelona. Durante toda a semana esteve com nós em Catalunha. Tal homenagem tambem a merecia por ter sido director de 1950 a 1965, em Lugo, do modélico colégio Fingoi. Mas, como já é típico por desgraça na Nossa Terra, fazendo todo ao revês, a figura mais grande e importante no campo lingüístico que tuvemos na história foi e é injustamente marginada e esquecida. Tal infämia, tal injustiça, tal imoralidade, que continua aínda hoje, pode infelizmente permanecer. O que nom deixa de ser uma ignomínia. Em 1996, por acordo unánime e plenário, o Parlamento Galego, onde está conservada a excelente biblioteca de Carvalho, foi nomeado Filho Ilustre da Galiza. Mas a Académia da rua corunhesa das Tabernas, da que foi destacado membro, nunca o propus para dedicar-lhe as Letras Galegas.


Embora o presidente anterior, Paco del Riego, ao que muito apreciava, intentou-o, mas só obtivo o seu voto a favor. Em 1977 correspondia-lhe pola sua categoria ser ele o presidente desta Académia. Noutra afrenta típica foi nomeado no seu lugar García Sabell, com muitíssimos menos méritos. Em 1982, no lugar de ser ele o elaborador da norma ortográfica do nosso idioma, como lhe correspondia pola sua categoria profissional e académica, e por ser o presidente da comissom elaboradora da mesma em 1979, passou-se-lhe a responsabilidade ao catedrático de castelhano, o asturiano Constantino García. E assim saiu o engendro que saiu, que tanto dano leva feito à nossa língua. A Carvalho nom se lhe perdoa o querer reintegrar a língua no espaço lingüístico ao que filologicamente pertence, o luso-brasileiro. Em palavras do professor Rodríguez Ennes, que compartimos, nom se lhe deixou ser o Pompeu Fabra galego. A única forma válida de reparar tamanha injustiça seria declarar pola Académia Galega o ano 2010 como ano de Carvalho Calero. Que é a personagem que mais o merece. Porque foi ademais um grande poeta, romancista e ensaista. A sua História da Literatura Galega Contemporánea aínda é hoje uma incomparável e magna obra. O tambem grande poeta lucense Uxío Novoneyra pode esperar um ano para as Letras. O mesmo que Floréncio Delgado Gurriarán. Se finalmente a Académia propom a Carvalho, cousa que muito duvidamos, de por vida lho agradeceriamos muitos galegos e galegas.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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