Opinión

A linda Bengala de ouro

O grande Camões escrevia no Canto sétimo, estrofe 20, de Os Lusíadas um formoso verso que diz: ‘Terra de Bengala, fértil de sorte que outra não lhe iguala’. Eu que tenho a imensa sorte de vir e morar aqui, por vários meses desde 2001, posso testemunhar que o nosso poeta tem grande razom. Nom só e uma terra como um grande vergel que produz de todo, senom que a sua natureza é tam bela e maravilhosa, que nom me estranha nada que fosse ao longo da história a que mais poetas desse à India: Dotto, Lhoidev, Lhivonanando Das, Sen Gupto, Mukundo Ram Das, Otul Sen, Chondidas e, sobretodo, Robindronath Tagore. Bengala foi sempre a vanguarda cultural deste grande país, em que tam à vontade me encontro. Os escritores, educadores, cientistas, pensadores, artistas, reformadores sociais e vultos mais importantes indianos foram na sua maioria de Bengala. Por isto os ingleses, seguindo o antigo modelo dos romanos de utilizar a estratégia de ‘Divide e vencerás’, no ano 1905, partiram Bengala em duas. Para restar forças à naçom bengalesa, que foi pioneira na luita pola independência. Kolkata continua a ser reconhecida como a cidade mais culta da Índia. Em que mais se lê, mais se escreve, mais livros se vendem, mais artistas criam, mais tertúlias existem e onde cada dia se esgotam os cinco jornais publicados em inglês, os seis em bangla e os sete em hindi. Indicador do que antes venho de mencionar.


Eu moro a maior parte do tempo num verdadeiro paraíso, chamado Santiniketon, que significa Morada da Paz. Esta localidade encontra-se no coraçom da Bengala ocidental, a 143 quilómetros por comboio da capital do estado Kolkata. Estou rodeado, portanto, de toda uma frondosa natureza, onde em muitos lugares há 4 colheitas de arroz ao ano. Ao lado de campos de cor castanho, existem outros de verde intenso e brilhante. Há grandes campos de patacas, de todo o tipo de hortaliças, de mostarda para fazer óleo, de cana-de-açúcar, de bananeiras e palmeiras, de mangueiras, de coqueiros, de todo o tipo de frutas e, maravilhosas flores de todas as cores, todos os olores e variedades. Realmente estou no meio dum vergel imenso. Onde a luz diáfana e profunda do sol, a vida de plantas e numerosos animais e pássaros de todas as cores, trinos e cantos animam todos os seres vivos e humanos. Que provocam alegria e gozo.


Nom há nenhum problema de água. A comida, por serem magníficos os produtos básicos, é extraordinária e, para nós, muito barata. O artesanato, a música e cantares, que estám sempre presentes, a beleza das crianças e das mulheres de todas as idades, o céu azul de dia e cheio de estrelas brilhantes de noite, configuram algo que nom há palavras para o poder contar adequadamente. As noites de lua cheia som algo único aqui. A poluiçom só existe nas grandes cidades, nom no rural. Por todo isto é razoá vel que a maioria dos bengalis se sintam orgulhosos do seu país, amem profundamente o seu formoso idioma, o mais bonito e doce da Ásia, apreciem muito os que procuramos aprendê-lo e falá-lo, valorizem o próprio e as suas riquezas e a sua paisagem, a sua cultura e tradições, a sua etnia e todo o que tem de seu. Por isso definem a sua terra como a mais linda (ruposhi) e a mais rica (sonar). Termos que se recolhem na sua cantiga mais popular, similar à Rianjeira nossa, e que se resumem no titular deste meu artigo.


Quando falo de Bengala também me refiro à oriental, que hoje configura o chamado país de Bangladesh, separado infelizmente de forma artificial e arbitrária no seu dia polos britânicos. A este país, com capital em Dacca, voltarei em janeiro para olhar de novo os lugares e propriedades dos Tagore. Em Bengala lembro-me muito da Nossa Terra, Galiza, em que gostaria de ter galegos e galegas similares aos bengalis, que apreciam o seu, sem desprezar o dos demais. Pois galegos que nom falam a língua da sua terra nom sabem o que tem de seu, nem som merecentes dela. Diz o provérbio popular. Provérbio que, no meu rudimentar bangla, lhes comento aqui e me respondem com veneraçom, dando-me a razom. No lugar de galegos ponho bengalis.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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