Opinión

Lozano e Blanco Amor

O Festival de Cinema de Ourense, na sua décimo quarta ediçom, teve o grande acerto de homenagear a dous ourensanos de forma póstuma bem merecida. Em primeiro lugar, ao criador do festival no ano 1996, Eloi Lozano Coelho. Infelizmente, falecido em Compostela, o passado mes de abril. Em segundo lugar, ao nosso mais importante romancista, Eduardo Blanco Amor. Pois este ano celébra-se o cinqüentenário da primeira ediçom do seu excelente romance ‘A Esmorga’, cuja acçom decorre pola nossa cidade e os seus bairros. E está considerado como a mais importante novela da nossa literatura. Curiosamente, entre os dous homenageados, existe uma relaçom de amor-ódio, que mais adiante comentarei.


Conhecim eu a Lozano, recem chegado a Ourense, a princípios dos setenta, logo de terminados os seus estudos de cinema em Madrid. Tambem eu terminara na Complutense em 1971 os de Pedagogia. Sempre valorei positivamente a este cineasta, de especial sensibilidade, como verdadeiro artista que era, pola imagem e pola cultura. O apreciei sempre e sempre me levei muito bem com ele. Lamento que na nossa cidade, que terminou por abandonar, fosse um incompreendido. Como grande amante do cinema que era, ajudou sempre ao nosso Cine Clube ‘Padre Feijóo’. Na sua programaçom, nas suas Mostras e Jornadas do Cinema, de 1973 a 1978, onde projectara a sua curtametragem em 35 mm. ‘Retorno a Tagen Ata’, baseada num relato de Ferrim. E, em 16 mm., ‘Os Oleiros’, excelente documentário que convem recuperar, dedicado aos oleiros de Ninho d’Águia, Meder-Salvaterra, Bunho, Nogueira de Ramuim e Gundivós. Mesmo foi ele o que recuperou o excelente filme etnográfico ‘O carro e o home’, do ourensano António Romam, com voz de Joaquim Lourenço ‘Xocas’. Foi ele tambem o que ajudou a salvar o Cine Clube, ao recuperar os projectores de 35 mm. ‘OSA-VI’ do Cine Avenida, que estavam no colégio das freiras de Maceda. E que aínda devem estar instalados na Casa de Cultura da rua do Concelho. Gostava muito do cinema oriental e japonés, como o de Kurosawa e Ichikawa. Nom deve extranhar, por isso, que chegasse a filmar ‘As belas durmintes’, a sua longametragem baseada no romance de Yasunari Kawabata, prémio Nóbel de literatura. Gostava muito do filme ‘Iluminaçom’ do polaco Zanussi e do cinema de Buñuel, Fellini, Erice e Berlanga. O outro dia vendo no Principal, que ele tambem ajudou a salvar, os seus dous últimos filmes, que me surpreenderam gratamente, ao visionar a desfeita urbanística levada a cabo nos últimos tempos na Galiza, amostrada num dos dous filmes, lembrei o muito que gostava do filme ‘Le mani sulla città’ (As maos sobre a cidade) do italiano Rossi. Que no seu dia fora projectado, a proposta sua, no Cine Clube ourensano.


Lozano tinha feito o guiom em galego de ‘A Esmorga’. A sua ilusom era rodar este filme com Landa de protagonista. Mas, depois de idas e vindas, Blanco Amor (de maneira muito dessacertada) preferiu vender-lhe os direitos a Gonzalo Suárez. Que a rodou em castelhano, em espaços asturianos, e nom, como lhe correspondia, nos da nossa cidade. Do filme só salvamos o elenco dos seus grandes actores. Lozano e os seus pais, Eloi e Xaviera, mestra em Amoeiro, que eu muito apreciei tambem, ficaram muito frustados. Lozano nunca esqueceu que Blanco Amor declinara apoiar a um jovem que se iniciava nas artes cinematográficas. Um Blanco Amor tam narcisista e ególatra, como extraordinário escritor. Os seus livros ‘Gente ao longe’, ‘Os biosbardos’ e ‘A Catedral e o neno’, som magníficos para levar ao cinema. Assim como muitas das suas ‘Farsas para títeres’. E ‘A Esmorga’ em galego, e a rodar em Ourense.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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