Opinión

Machado pudo ensinar no Instituto de Ourense

Se fazemos caso dos hinduístas todas as pessoas temos um destino nas nossas vidas. Por muitos motivos nós já começamos a acreditar em isto. O grande poeta António Machado também teve o seu próprio destino. No seu momento, ano 1907, tinha o desejo de ser catedrático de francês no Instituto de Ourense. Mas, polas circunstâncias que a seguir comentamos, nom pudo cumprir este desejo e terminou no Instituto de Sória. Que tanto ia a influir na sua vida e na sua obra. Para o presente artigo tomamos como base o estupendo livro do investigador hispanista Ian Gibson sobre a vida de Machado, publicado no 2006. E trazemos isto ao nosso La Región, porque o passado dia 22 de fevereiro o nosso excelente poeta recebeu uma homenagem em Colliure, onde morreu (e está soterrado) um mesmo dia de 1939. Cumpriam-se os 70 anos do seu falecimento.


O pai de Machado, António Machado Álvarez (que escrevia com o seudónimo de ‘Demófilo’), tinha nascido em Compostela o 6 de abril de 1846. Porque alí se encontrava a sua mai e o seu pai António Machado Núnhez, que por oposiçom conseguera a cadeira de física e química da universidade compostelana em 1845. O pai de Machado gostava muito do folclore e da cultura popular. Chegou a investigar e publicar sobre o folclore andaluz e sobre o nosso folclore galego. E isto influiu no seu filho poeta e tambem em Manuel Machado. Como outros muitos grandes escritores e artistas o nosso poeta formou-se na Instituiçom Livre do Ensino (ILE), sendo discípulo do seu criador Francisco Giner de los Ríos, grande pedagogo. Ao que, após a sua morte em 1915, dedicou um poema emocionante. Giner convenceu ao poeta, porque tinha uns bons conhecimentos do idioma francês, para que se apresentara às praças recentemente convocadas de cadeiras desta língua em vários institutos. Era o ano 1905 e as cadeiras vacantes correspondiam aos institutos de Ourense, Baeza, Huesca, Mahón e Sória. Que no ano 1906 aumentaram a sete, ao agregar as de Albacete e Cabra. Naquela altura as oposiçoes eram muito duras e intermináveis, com infindade de exercícios eliminatórios e com a famosa trinca dos contrincantes apresentados. Com muitos trámites burocráticos prévios. Algo assim como uma verdadeira odisseia que durava nom só meses senom tambem anos. Machado matrícula-se no verao de 1905. As provas escritas iníciam-se entre março e abril de 1906 e o três de maio suspendem-se ‘até novo aviso’, ficando aceites 24 opositores dos 125 iniciais apresentados. Por unanimidade do júri o poeta aprova e pode continuar fazendo as provas seguintes. Que se reiníciam no outono desse ano e Machado supera o segundo exercício, sendo convocado para o terceiro o 9 de janeiro de 1907. O programa elaborado por Machado contêm 74 temas de francês e por sorteio tóca-lhe falar do verbo. O 19 de janeiro realiza o quarto exercício, que é eminentemente prático e dura quatro dias com provas eliminatórias. O 28 de janeiro, diante dum grupo de estudantes, o poeta realiza o exercício prático pedagógico. E, em dias posteriores lévam-se a cabo as ‘trincas’ entre os opositores que ficam (uns criticam a outros e todos tem que defender-se). Depois de tal odisseia, as oposiçoes terminam o 4 de abril de 1907. O júri leva a cabo as votaçoes sobre os opositores aprovados e Machado acada o posto número cinco. Quando ao poeta lhe toca escolher instituto só ficam as cadeiras de Sória, Baeza e Mahón. Nom pode acceder à de Ourense por ser escolhida por um opositor com melhor lugar. A da nossa cidade ourensana era a que queria, pola amizade que tinha com Valle Inclán, e polo antecedente galego de seu pai e os seus estudos sobre o folclore galego. O 5 de abril opta pola de Sória, e por Real Ordem de 16 de abril é nomeado oficialmente catedrático numerário de língua e literatura francesa no Instituto General e Técnico de Sória, com um salário anual de tres mil pesetas daquela época.


Em Sória conhece à sua namorada Leonor e escreve, entre outros, esse formoso livro de poemas ‘Campos de Castilla’. Foi pena, porque se Machado vinhesse de docente a Ourense, nom só isso teria muita influência na sua vida pessoal, senom na sua obra. E especialmente na sua poesia, posto que a nossa paisagem e a nossa língua som bem diferentes às de Castela. Ademais de a Rosalia, Curros e Pondal, teriamos a Machado. Que terminaria por identificar-se, estamos seguros, com esta nossa terra atlántica e secular. E desde o Padroado de Missoes Pedagógicas, ao que Machado pertenceu a proposta de Cossio, muito teria trabalhado pola nossa cultura. Como muito bem dizia a nossa mae Rosa ‘nom estava de ser’. E Machado, o grande poeta ao que muito admiramos, cantou a Castela e nom à nossa Galiza.



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