Opinión

O meu amor polo idioma galego

O día 12 de abril de 1948, às 4 da madrugada, nascia eu na Casa do Borras da aldeia da Corna (Pinhor). Na mesma casa onde estava radicada a escola. Minha mae Rosa fora atendida no parto polo grande médico rural Argimiro Garrido, de O Reino. Esposo de dona Anúncia e pai de vários filhos de exemplar conducta, como a dos seus pais. Entre nós está, por exemplo, o seu filho, o grande oculista do Policlínico e da Residência, que leva os mesmos apelido e nome dignos de seu pai. As palavras por mim escoitadas nos 9 meses da vida intra-uterina, e logo ao sair à luz de abril, foram as galegas de minha mae e de meu pai. Minha mae Rosa só sabia falar galego, embora entendesse o castelhano. Era uma magnífica costureira e tinha uma sabedoria popular impressionante, herdada especialmente de minha avoa e sua mae Pura. Era um prazer escoitar dos seus beiços infinidade de contos tradicionais, de poemas, de refraes, de ditos populares, de adivinhas, de coplas, de pareados, de trava-línguas. A ela devo-lhe o amor que desde sempre tenho polo galego, a minha língua materna. Nom som filólogo, som pedagogo, sem embargo é tanto o amor que tenho polo idioma de Galiza que lhe levo dedicado horas, dias, semanas e anos. O que nom me obriga a despreciar as outras línguas, sejam as que for. Porque me ponho sempre no lugar das crianças e das pessoas que têm como língua materna outra diferente da galega e me identifico com elas. De meu pai recebim tambem muitas influências e tambem positivas. Meu pai sentiu-se muito feliz quando eu nascim e eu bem o sei. Meus pais perderam cinco anos antes uma parelha de filhos gemelgos (um neno e uma nena), com tam só um ano de vida. Por isso meu pai colhia-me no colo e cantava-me muitas cantigas galegas e, por vezes, tambem dançava comigo nos seus braços. Indo só, já de maior, à escola nouturna, chegou a ter tanto nível na leitura e escrita, que foi o notário rural durante mais de trinta anos da nossa comarca. Meu pai sempre me regalava livros, que me trazia das feiras às que ia. Infelizmente em galego, naquela altura, quase nom havia nenhum. O primeiro livro que lim em galego foram os Cantares Galegos de Rosália de Castro. Muitos dos seus poemas aínda os sei hoje de memória. O livro deixou-me impressionado. Era a primeira vez que lia um livro escrito na língua de minha mae e de meu pai, dos meus tios e tias, dos meus avós, dos meus primos e primas, de todos os meus vizinhos e de todos os meus companheiros da escola. Que vinham das aldeias de Amear, Arneiros e Barreiros. Resultava, sem embargo, chocante que, ao entrar na escola ou na igreja, só podiamos escoitar falar em castelhano. Todos os livros estavam na língua de Cervantes e as oraçoes a Deus, à Virgem ou aos santos, eram umas em latim e outras em castelhano. Todo um contra-sentido, pois a língua de todos nós, sem excepçom, era o galego. Que utilizavamos em todos os âmbitos da nossa vida e, especialmente nos recreios, nos jogos e brinquedos e nas tarefas diárias e comunitárias. Tampouco no Instituto e na Universidade tinhamos galego e ninguêm nos falava dos nossos grandes vultos. Foi muito mais tarde quando descobrim as nossas letras e a nossa cultura. De Castelao sempre gostei muito. Os dous de sempre, o album Nós, o Atila em Galiza e, de maneira especial, o seu Sempre em Galiza, que todo galego deveria ler. O livro Vida, paixom e morte de Alexandre Bóveda impressionou-me de verdade. Logo fum conhecendo a Curros, Pondal, Novoneira, Manuel Maria, Cabanilhas, Biqueira, Bouça Brei, Risco, Vilar Ponte, Cuevilhas, Otero, Celso Emílio, Blanco Amor, Avilës e ...Tagore, traduzido de forma magistral por Telo de Mascarenhas.


Hoje aínda sigo sem compreender porque em 1983 se optou por uma escrita do galego que nos afasta e nos fecha a porta da lusofonia. Porque em vez de a Carvalho Calero, se lhe otorgou a responsabilidade ao asturiano Constantino García para que inventasse tal norma ortográfica. Se escrevessem sem gralhas e com uma norma etimológica, escritores galegos tam extraordinários como Rivas, Fernández Paz, Caneiro, Vázquez Pintor, Suso de Toro, Alcalá e Méndez Ferrín, nom só seriam muito lidos na sua própria Terra. Tambem teriam grande sucesso em Portugal, Brasil e no resto dos países lusófonos.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

Te puede interesar