Opinión

As mulheres da Índia

O outro dia um nosso amigo e médico ourensano que encontramos pola rua, criticou-nos que nos artigos dedicados à Índia falássemos tam bem deste país. Justificámo-nos dizéndo-lhe que eramos conscientes de isso. Que o faziamos porque, dum país tam extraordinário em tantas e tantas cousas, onde de cada cem oitenta som boas e positivas, só se fala nos médios das negativas. Criando nos cidadaos do mundo pre-conceitos e estereotipos injustos e equivocados. Que, para falar da Índia, nom se pode fazer desde a distância, que é necessário visitá-la e conviver por um tempo com indianos e indianas. Que nom existem países nem culturas perfeitas e que a indiana tambem tem os seus defeitos. E algúns muito graves, como a horripilante burocracia herdada dos británicos, a falta de segurança social, a excessiva contaminaçom em muitas das suas cidades, a nom escolarizaçom de muitas crianças do rural... E, especialmente, a profunda marginaçom que sofrem alí as mulheres indianas. E já nom digamos as da colectividade mussulmana.


Aproveitando a sinalada data do 8 de março, dia da mulher trabalhadora, queremos trazer hoje à palestra a situaçom na que se encontram as mulheres nesse grande sub-continente asiático. Ao contrário do que muitos pensam, nom é a miséria e a fame o problema maior, que em occidente, com tanta miséria mental, sim que temos problema. O problema maior , ao nosso entender, depois da experiência de passar, desde 2001, um promêdio anual de três meses residindo em Santiniketon-Bengala, é a discriminaçom que sofrem as mulheres indianas desde há séculos. Discriminaçom injusta e imoral, na que desgraçadamente som muitas as próprias mulheres culpáveis desta situaçom, ao continuar com o modelo educativo a favor da desigualdade feminina.


Na Índia o melhor que há, ademais da alegria, a natureza, os valores pacifistas e o respeito pola vida, polas pessoas e polas ideias filosóficas e religiosas variadas, som as crianças -todas alegres, bondadosas e educadas- e, por cima de tudo, as mulheres. Que ademais de formosas (inclusivê as velhas), som a alma, a vida e o sustento dum país com mais de mil milhoes de cidadaos. Que é o país que mais progressa no mundo, com perto dum 9 % de produto interior bruto anual. Diante do que comentamos, resulta tremendamente injusto o trato que recevem as mulheres. O governo teve mesmo que proibir as ecografias às embaraçadas, para evitar os numerosos abortos, ao descobrir que iam ser meninas. E que criar um ministério específico preocupado pola acolhida das muitas meninas abandonadas ao nascer. Porque as famílias consideram uma enorme cárrega ter uma filha mulher, pola posterior dote económica necessária para poder casá-la. O problema maior para as mulheres é ficar solteiras, e da primeira casta, por nom encontrar um homem da mesma condiçom, ficam bastantes solteiras. Um segundo problema o têm as viúvas hindúes que têm que sair à rua vestidas de branco, nom podem voltar a casar-se, nem comer mais carne, nem peixe, nem alhos, nem cebolas, nem ovos. Antiga mente tinham que arder vivas na pira funerária do esposo, com aquele costume bárbaro chamado ‘sati’.


Nas cidades, lentamente, vam mudando um pouco as cousas. Um 30 % estudam nas universidades, em comparaçom com os homens. No rural, sem embargo, um 10 % de nenos vam à escola, e nenas nom chega ao 1 %. Por isso é prioritário apoiar as escolas, que tambem há, que escolarizam a nenas, porque a educaçom da mulher é vital na Índia actual. Em Moldaga-Santiniketon e em Taldangra-Bamkura, visitamos escolas rurais às que assistem nenas. Pola sua importância, apoiamos no que podemos estas escolas para meninas, e todos os anos lhes regalamos livros e material escolar. Como em Kolkata, nas escolas para mulheres do Brahmo-Somalh, ao que pertencia toda a família de Tagore. Que tambem acolhe a meninas abandonadas, a solteiras e a viúvas. Gandhi e Tagore foram grandes defensores da mulher. E na escola de Tagore, desde 1901, pratíca-se a coeducaçom e defénde-se a igualdade.


Os livros sagrados hindúes nom falam em nenhum momento de que tenham que ser tratadas assim as mulheres. Que, embora muitas sejam iletradas, educam aos seus filhos de maneira magistral, com amor e agarimo. Dedicándo-lhes tempo, jogando e cantando com eles. E realizándo-lhes as milenárias massagens aiurvédicas. Ver às mais da Índia de todas as castas e às sem casta o bem que tratam aos filhos é um verdadeiro prazer.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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