Opinión

Por que na Índia a vaca é sagrada

Entre as muitas cousas que aos ocidentais surpreende da Índia está o tema de que a vaca seja sagrada para a maioria dos indianos. Quando vamos aos colégios galegos falar da Índia, mestres e crianças têm muita curiosidade por conhecer as razões polas quais este animal tam singular tenha o caracter de sagrado. A melhor maneira de entender porque é assim está em viajar à Índia alguma vez. Aqui é onde te dás conta do grande valor que tem uma vaca. A vaca, que os indianos chamam ‘goru’ (com acento no ‘u’) e nom distinguem entre boi e vaca, usando este comum termo; na Índia representa no mais alto grau a VIDA (com maiúsculas). Este imenso país nom poderia sobreviver se lhe faltassem as vacas. Excepto os mussulmanos -e aqui há muitos-, que som os únicos que matam e podem matar as vacas (por isso o ofício de carniceiro é exclusivo desta comunidade), todos os demais cidadãos deste subcontinente, hindus, iainistas, budistas e outros, têm a vida como algo sagrado. E a vaca representa a vida por antonomásia. As vacas morrem de velhas e mesmo existem hospitais para as vacas. So se pode comer carne de vaca em toda a Índia nos restaurantes mussulmanos. Em todo o tempo que cá estamos nom comemos vitela e a verdade que nom a estranhamos nada porque a sustituímos por um frango delicioso, que aqui se denomina ‘murgui’.


Da vaca na Índia aproveita-se tudo, sem ter que a matar. Em primeiro lugar o leite, que é muito saboroso e que aqui se denomina ‘dut’. Nós tomamos leite nas três comidas. E também com o arroz, o chá ou ‘te’ e algumas vezes com o café. Do leite fazem aqui ademais de leite maçado, que nós tomávamos de pequenos na nossa aldeia, uns requeijões artesanais deliciosos. O ‘doiwala’ é o vendedor ambulante, por estradas, caminhos, ruas e corredoiras, que vende requeijões -que se chamam ‘doi’- tradicionais, elaborados artesanalmente e colocados em cuncas de barro. O seu pregom e ‘bhalo doi, bhalo doi’ (bom requeijom, bom requeijom). Que nos lembra aquele formoso acto teatral do livro de Tagore O Carteiro do Rei. Mas a vaca, e também boi, que aqui é muito mansa e sensível, puxa de todo tipo de carros, com rodas de pau e de ferro, dos arados e das agrades, para sementar as patacas, o arroz e a mostarda, da que depois na India fazem o azeite para cozinhar. A bosta, depois de seca, é também aproveitada. Recolhem-na, ponhem-na a secar nas paredes e muros das casas, e depois serve de lenha para fazer o fogo nas cozinhas, semelhantes às nossas antigas de lareira. O alimento fundamental para o deus do amor, Krishno, era o leite. Em Mathura, onde está o templo hinduísta mais importante dedicado a esta divindade, o leite é um dos elementos fundamentais e a vaca dá-o em grandes quantidades e, geralmente, de muita qualidade. Existem muitos contos e lendas arredor destes temas, de Krishno e a sua namorada Radha, da vaca, dos vaquei ros e dos leiteiros. Aqui existem muitos leiteiros ambulantes nom leiteiras, como existiam na Galiza, lembradas pola estatua do nosso ourensano Passeio, que vam pregoando bhalo dut, bhalo dut (leite bom, leite bom). Muitas oferendas nos templos hinduístas, ademais de com flores, ovos e doces, fam-se com leite. Símbolo da vida, tam importante para a sobrevivência e crescimento dos mais de quatrocentos milhões de crianças que existem no subcontinente indiano. E para as pessoas da terceira idade que também o necessitam. Existe também, pois, uma razom económica para suster a sacralidade da vaca.


A vaca sagrada da Índia e o seu leite lembra-nos muito a nossa Galiza da infância. Todos os dias íamos buscar à aldeia dos Arneiros do nosso pai o leite numa caldeireta. Ao chegar bebíamos já quente, recém mungido, um leite que nos sabia a glória. Igual que para muitos galegos, os indianos nom podem compreender a festa dos touros da Andaluzia. Como se pode matar algo tam importante para a vida? Castelao desenhou aquele formoso cartaz com o pé Lastema de bois! E escreveu sobre a vaca, no ‘Sempre em Galiza’, um maravilhoso texto arredor dela. Sera porque a antiga cultura da nossa Galiza tem muito a ver com a cultura antiga hinduísta da India? Venham a este grande país asiático a ham ver logo porque a vaca é sagrada e muito respeitada.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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