Opinión

O nosso Coral de Ruada

Nom temos os ourensanos nos últimos anos muitas cousas das que sentir-nos orgulhosos. Os tempos dos nossos grandes vultos da, com justiça, chamada Atenas da Galiza, da revista Nós, do grande arquitecto Gulias, do excelente escultor Failde, das festas maiores e populares com sucesso, do labor teatral de Segundo Alvarado no Valle Inclán, da época de ouro do Cine Clube com as suas mostras e jornadas, das escolas internacionais de verao...ficam já bastante longe, na distância. Sem embargo hoje, homens e mulheres desta cidade, temos algo do que nos podemos sentir realmente orgulhosos. Contamos com o Coral de Ruada. Possívelmente o mais importante coral da Galiza, com um historial digníssimo. Levando por muitos territórios do mundo as nossas cantigas e a nossa música.


Alí onde tambem existem comunidades de galegos que levam a sua Terra no coraçom. O outro dia inaugurou-se no edifício Simeón uma formosa mostra sobre os noventa anos da vida do nosso coral. Recomendo aos meus queridos leitores a sua visita. Nom só para aprender mais sobre o devir do coral, desde 1918, ano da sua criaçom. Tambem para subir a nossa auto-estima como ourensanos, que tanta falta nos faz. Em épocas oscuras, baixas e tristes, cheias de mediocridade.


O dia 5 de outubro de 1918, cinco ourensanos dignos, com sensibilidade profunda e amor à Terra, Xavier Prado Lameiro, Virgílio Fernández, Júlio Prieto Nespereira, Fabriciano Iglésias e Cesáreo Eire, reunem-se para fundar o que iam chamar Coro de Ruada. Que debuta nas festas maiores da cidade, na sala Apolo, o dia 24 de junho de 1919. Em sucessivas etapas, muitas pessoas de bem, músicos, escritores, artistas, intelectuais...estuveram ligados, de uma ou de outra forma, ao Coral. Entre eles, quero destacar ao grande músico Faustino Santalices, Camilo Díaz, pai de Díaz Pardo, Rei Soto, o poeta Cabanilhas, Basílio Álvarez, Joaquim Lourenço (qué jornadas deliciosas passamos com ele e com o Coral nas romarias do Viso de Lobeira!), Otero Pedraio, Risco, Prego, Failde, Trabazo, Arturo Baltar, Acisclo, Anxo, Araújo Iglésias, Carlos Núñez, Alcalá Zamora, Mário Soares e os presidentes de Uruguai e Argentina em 1931. Tambem, e especialmente, o mártir galeguista o ourensano Alexandre Bóveda. Sobre a visita do Coral em 1927 a Sevilha e Cádiz, o corista, e meu amigo, Joaquim Vales, vem de publicar um formoso livro comemorativo.


Ao largo do devir histórico do Coral, destacam como directores do mesmo músicos tam importantes como Daniel González (autor dum lindo livro que tenho na minha biblioteca, publicado nos anos sesenta com o título de Así canta Galiza), Germán Rodríguez, Isolino Canal e A. Jaunsarás.


E, felizmente aínda vivos, Bruno Fuentes, Javier Jurado, José Mª González, J.J. Rumbao e Manuel de Diós. O labor deste, companheiro meu no Instituto do Poussio no curso 1971-72, foi excepcional. Adaptando muitos cantares populares, como Milho verde, e criando letra e música de cantigas tam sublimes e emocionantes como a Pandeirada de Ourense e, em especial, Ourense ao longe. Ademais de musicar com grande acerto poemas de López Cid, Valente e Tovar. Durante os seus fructíferos noventa anos de vida, o Coral actuou em muitas localidades. Destacam as de Quimper e Lorient, por duas vezes, na Bretanha gala. As de América Latina, como Montevideo, e as argentinas de Córdoba, Mendoza, Rosário, Mar de Plata e Buenos Aires. Em 1935 tem lugar a sua primeira actuaçom em Portugal, e, em concreto, na cidade de Vila do Conde, perto de Porto. Em anos sucessivos actuou várias vezes em Vila Real e Chaves, e tambem em Coímbra, Viana do Castelo e Guimaraes, cidade-berço. Eu quero destacar o grande sucesso que teve na sua jeira polo Brasil em 1931, onde o Coral marchou com a monarquia e regressou com a República. De 7 a 12 de junho actuou no Theatro Coliseu da cidade de Santos. E de 15 a 21 do mesmo mes, em sessoes de tarde e noite, no Theatro Glória de Rio de Janeiro. Na mostra do Simeón, citada mais acima, recólhe-se cópia do cartaz anunciador das 14 actuaçoes.


Que, polo seu valor, quero reproduzir : Cine-Theatro Glória Companhia Brasil Cinematographica. Coros de Ruada. Cançoes emotivas. Poesia encantadora. Música deliciosa.


Gaitas de foles. Bailados. Expressao folk-lorica do Galaico-Portuguez.


Nos dias 15,16,17,18,19,20 e 21, tarde e noite. A argumentaçao e os versos deste folheto estao escriptos no idioma da Galiza (Hespanha). Como é natural, por tratar-se do mesmo idioma, nom houve problema algum para que os brasileiros entenderam os belos cantares galegos do nosso Coral.


Para terminar, quero lembrar com nostálgia a actuaçom no Principal, nos anos noventa ,dentro do programa das nossas Jornadas do Ensino. E todas as vezes que levei a meus pais Juan e Rosa às festas do Coral na carvalheira de Osseira. Tambem agradecer o estupendo labor durante muitos anos, como presidente, de Rego Nieto. Ao que muito admiro e aprécio.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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