Opinión

O nosso Teatro Principal

Das muitas cousas que sobre educaçom e cultura tenho feito desde 1971 na nossa cidade, há uma da que me sinto verdadeiramente orgulhoso. Foi o haver colaborado na salvaçom do nosso Teatro Principal da rua da Paz. Em novembro de 1975, o cineasta Eloi Lozano, o pintor Conde Corbal, o arquitecto Santi Seara e quem suscreve, constituímos o grupo ‘Adepende’ com o objectivo decidido de impedir que o nosso Teatro fosse derrubado. Como infelizmente acontecera com outros muitos edifícios nobres da cidade. Para isso iniciamos uma campanha baixo o título de ‘Tráta-se de salvar o Principal’. Durante mais dum mes trabalhamos sem descanso para organizar, com fotos, cartazes e paineis uma magna exposiçom, da que eu aínda conservo os diapositivos da mesma. Que em dezembro desse ano foi exposta por primeira vez na sala nobre do Liceu. Para desenhá-la, utilizamos os espaços do estudo artístico que Conde Corbal tinha num pátio interior do Parque de San Lázaro. Fora muito importante a ajuda que desde La Región nos prestaram Sánchez Izquierdo e, muito especialmente, Maribel Outeirinho. Que a consideravamos uma mais do grupo. Porque Maribel sempre amou a nossa cidade e estava totalmente identificada com as nossas reivindicaçoes. Aínda lembro com nostálgia aquela entrevista que lhe fez a don Ramóm Otero Pedraio e publicou no nosso diário. A sua frase lapidária: ‘É mais importante salvar o Principal que uma igreja románica. Igrejas há muitas, Teatro só um’, foi um apoio magnífico à nossa campanha. Carlos Estévez desde o Colégio de Arquitectos ourensano, e o fotógrafo Del Río, tambem aportaram o seu grau de areia.


O ‘alma mater’ do grupo era o artista Pepe Conde, com profundo humor risquiano. Mesmo as denominaçoes do nosso grupo e da campanha, som totalmente risquianas. Ademais, por proposta de Conde, os textos utilizados eram colhidos de Risco. Tomando como coraçom da exposiçom o Teatro, fumos colocando arredor ruas, monumentos, estátuas, praças, desfeitas (algumas que se estavam a fazer em aquele precisso momento) e traslados históricos sem senso algum, acontecidos na nossa cidade. O tempo que utilizamos para organizar todo foi muito agradável e eu aprendim muitas cousas sobre o meu Ourense. Como que, durante décadas, foram trasladadas de lugar muitas cousas, e no caminho sempre se perdeu alguma peça : a estátua de Concepción Arenal, o cruzeiro de San Lázaro e a capela, a fachada de S. Francisco, o hospital de S. Roque...Aprendim tambem a grande personalidade que foi Risco, que infelizmente nom pudem conhecer, porque eu vim para Ourense em setembro de 1963, desde a minha aldeia de Corna, e D. Vicente falecera em abril. Nom quero esquecer-me tampouco que o Cine Clube ‘Padre Feijóo’, que presidia Emílio Losada, e eu era directivo do mesmo, projectou o filme inglês de Tony Richardson ‘Um sabor a mel’, nos Salesianos, para recadar fundos para a campanha.


O nosso fermoso Teatro fora construído em 1830, seguindo o modelo italiano que tambem é o do ‘Beatriz Galindo’ de Madrid. No dicionário de Madoz de 1845 já se fala dele. Em 1915 é adaptado tambem para cinema. A princípios dos setenta é fechado. Eu lembro aínda que a primeira vez que nele entrei foi em outubro de 1963 para ver o filme ‘Parrish’ de Delmer Daves. E já ficara prendado do seu teito e dos decorados. Logo fum ver filmes muitas vezes. Victorino Núnhez, comvem dizé-lo, foi logo em 1982-83 o verdadeiro artífice da salvaçom, asumindo em solitário a Deputaçom que presidia, a sua adquisiçom. Falharam antes outras instituçoes para colaborar. Durante anos, com grande esforço, levou-se a cabo a restauraçom definitiva. Em 1990, sendo Conselheiro de Cultura o meu amigo Daniel Barata, foi inaugurado tal como hoje o temos. A mim gostaria-me que se mantivessem o teito tal como era e os decorados de Parada Justel. Sem embargo reconheço que tambem assim ficou muito bem. Com o teito desenhado por Quessada. E gostaria mais que na actualidade fosse melhor gestionado. Como quando o fazia Rego.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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