Odia 10 de abril de 1976 falecia na nossa cidade Ramom Otero Pedraio, um dos nossos vultos mais preclaros. Há, por tanto, 35 anos desde que nos deixou fisicamente e está soterrado em Sam Francisco. Das suas múltiples facetas culturais como escritor, conferencista, articulista em numerosas publicações periódicas, a de educador é a menos estudada. Sendo como foi um dos nossos educadores mais importantes e um modelo de pedagogo teórico e prático. Do que no seu dia publiquei um meu artigo na revista ourensana Raigame. Este ano de 2011 cúmprem-se os cem anos da ilusionante volta de Otero à sua querida cidade de Ourense. Depois de fazer os seus estudos superiores na Universidade de Madrid. Ao chegar a Ourense vai-se implicando na vida cultural ourensana e em muitas das suas instituições. Entrando já em 1914 na directiva do Ateneo e em 1917 no corpo redactorial de La Centuria. Um ano depois, da mao de Lousada Diéguez e das Irmandades da Fala, entra no galeguismo. O seu primeiro artigo de temática galega publica-o no nosso La Región o 13 de janeiro de 1918. A partires deste momento nunca deixou de trabalhar por Galiza, como bom e generoso que era. Por concurso de traslados, no curso 1920-21, passa a ocupar a cadeira de Geografia e História do Instituto de Ourense, que hoje leva o seu ilustre nome. Até 1937, em que é repressaliado e destituido, desenvolve um labor pedagógico e didático excepcional, reconhecido por todas as generações de alunos que passaram polas suas aulas. Foram dezassete anos de labor docente muito frutífero, periodo no que os seus estudantes o consideram como um 'Mestre' com maiúsculas, inspirado, amigo dos alunos, compreensivo e tolerante, apaixoado com as suas explicações e a sua Terra, flexível e carinhoso, sempre disposto a ajudar e, especialmente, um magnífico orador, manantial de palavras...Todos coincidem em que as suas aulas eram verdadeiras lições magistrais. Tema no que coincidem logo tambem os seus alunos da Universidade de Compostela. Na que por oposiçom, uma vez reposto, entra como catedrático de Geografia em 1950 e refórma-se, por cumprir a idade regulamentária, oito anos depois, em março de1958.
Num pequeno artigo como este é muito difícil condensar os princípios educativo-didáticos do seu excelente modelo pedagógico teórico e prático. Por isto resenharei os que considero fundamentais e remito os meus leitores ao artigo mais acima citado, que pode ser consultado por internete. Todos os seus livros e artigos, que foram numerossíssimos, têm aspectos pedagógicos. O seu Ensaio sobre a Cultura Galega, publicado em Lisboa por Guimarães Editora em 1954 é um livro modélico, com propostas aínda muito actuais para hoje. Mas, eu considero paradigmático, para analisar o seu pensamento pedagógico, o artigo publicado em 1930 no número 138 da revista Céltiga baixo o título de 'Um dever do professorado galego'.
A continuaçom, de forma o mais didática possível, passo a resenhar sinteticamente os princípios fundamentais do excelente pensamento pedagógico de Otero, muito próximo ao da Escola Nova:
1.-Importância das qualidades humanas do mestre ou docente, tratando de ser um modelo de pessoa.
2.-Acreditar na educaçom e no que se faz, sem perder o optimismo pedagógico.
3.-Apreciar os alunos e ser um verdadeiro amigo deles, mantendo nos mesmos a confiança.
4.-Alegria e humor no ensino e na aula. Ser afável, ter sensibilidade e uma comunicaçom aberta.
5.-Utilizar o método socrático, dando-lhe importãncia à palavra, os debates, o diálogo e as tertúlias.
6.-Suprimir, se se pode, os examens e as calificações, utilizando outros sistemas para avaliar.
7.-Fazer excursões culturais, jeiras e roteiros para conhecer a Nossa Terra. Porque o melhor recurso didático é o entorno. Ir do conhecido e do próximo ao desconhecido e mais lonjano.
8.-Incluir no currículo os mais variados temas galegos para todas as áreas do ensino. Pois o material para o ensino témo-lo diante : os montes, rios, fragas, castros, lendas, toponímia maior e menor, as igrejas, os refrães, ditos populares, coplas, ofícios, feiras, festas, flora e fauna e os trabalhos agrários.
9.-Importãncia da nossa lingua e literatura, sabendo-as ensinar com técnicas adeqüadas e sem imposições.
Otero Pedraio foi um grande mestre, reconhecido por todos e todas, que quase nunca suspendia e sem embargo os seus alunos aprendiam muito nas suas aulas, às que iam com agrado. Que se saiva, só suspendeu em Compostela uma vez a uma aluna, porque nom teve mais remédio, pois ficou muda ante as perguntas socráticas de Don Ramom.
