Opinión

Portugal tam perto e tam longe

Resulta muito difícil entender porque continuamos de costas viradas galegos e portugueses. O famoso desenho de Castelao do album Nós infelizmente aínda tem vigência hoje. Um velho tem no seu colo a um neno galego e está sentado à beira do Minho. Do outro lado está Portugal e o rapaz pergunta: ‘E os da beira de alá som mais estrangeiros que os de Madrid?’. O pé do desenho continua com a frase ‘Nom se soube o que lhe contestou o velho’. Sobre o relacionamento entre a Galiza e Portugal tem-se feito muito pouco. Existem múltiples pre-conceitos por ambas as partes. Os sucessivos governos galegos nom chegaram mais alá de tímidos contactos e de frases rimbombantes, vazias de conteúdo. Existe o chamado Eixo Atlántico, no que algo se tem feito, mas demasiado pouco e com muito pouca incidência em ambos povos irmaos. Existe uma Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de Portugal, mais no papel que em feitos práticos e reais. No seu dia tinhamos esperança de que o governo do mediocre Tourinho avançasse no relacionamento galego-português, por ter como sócio a um grupo teoricamente a favor. A frustraçom sem embargo foi enorme porque nom se fez nada.


É um verdadeiro contra-senso, como muito bem sinalava o outro dia num editorial acertadíssimo o nosso jornal de La Región, que Galiza e o Norte de Portugal, especialmente, nom tenham um relacionamento institucional profundo, periódico e continuado. Para favorecer os intercámbios comerciais, culturais, industriais, educativos e turísticos. Parece como se Portugal que está ai ao lado e com estradas bastante boas (nom assim com médios de transporte públicos), estuvesse situado em Alaska ou em Sibéria. Eu quero animar ao governo de Núnhez Feijóo para que de uma vez por todas rompa com as fronteiras artificiais, e mesmo mentais, e estabeleça os maiores laços de todo tipo com o nosso povo irmao em língua e cultura. Que temos ao lado, tanto na raia húmida como na raia seca. Se o actual governo galego da por fim o passo, seremos muitos os galegos a agradecer-lho. E de mim há receber os mais sinceros parabéns e apoios.


Eu nom compreendo bem como o que desde há muitos anos é normal na Extremadura (aulas de português nos centros de ensino, intercámbios cultu rais, ediçoes conjuntas de livros e revistas, etc.), na Galiza nom é normal em pleno século XXI. Continuamos sem poder ver a televisom portuguesa, sem escoitar as suas rádios, sem poder comprar livros, jornais e revistas lusos, de forma normal, e outros recursos culturais, aquí na Nossa Terra. Só explicável se existe medo à liberdade e medo a que galegos e galegas possam reflectir que Portugal é uma grande Galiza, com cultura e idioma similar ao nosso. Pessoas com dous dedos de frente nom podem entender esta barbaridade que pervive aínda nos tempos actuais. O labor de relacionamento realizado no seu dia por Risco, Cuevilhas, Otero, Castelao, Vilar Ponte, Bouça Brei, Carvalho, Santos Júnior, Oliveira Guerra, Cabral, e nós da revista O Ensino, fica para a história cultural da Galiza.


Vostedes compreendem, por exemplo, que na Feira do Livro Lusófono de Viana do Castelo, onde com gosto cederiam vários pavilhoes, nom esteja presente nenhuma instituiçom privada ou pública da Galiza? Um lugar magnífico desaproveitado, para divulgar e apresentar os nossos livros e publicaçoes e para apoiar as nossas editoras. Eu continuo sem entender isto que nom tem explicaçom alguma.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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