Opinión

Presença de Portugal em Bengala

Como todos sabem, após o histórico e famoso tratado de Tordesilhas, assinado no dia 7 de Junho de 1494 polos chamados Reis Católicos e polo rei João II de Portugal, foi estabelecida uma linha divisória de norte a sul (aproximadamente o que hoje é o meridiano 60) ‘para ser repartido o mundo’. Segundo isso todas as terras ao leste da linha imaginária seriam de exclusiva exploraçom do reino de Portugal. Ou seja, as Américas -excepto o Brasil- para o reino de Espanha e África e Ásia para Portugal. Três anos mais tarde, no dia 8 de Julho de 1497, o rei Don Manuel I encarrega ao navegante Vasco da Gama a exploraçom das terras situadas ao leste do meridiano anteriormente citado. Depois de organizar devidamente a sua primeira viagem, com navios, provisões e tripulaçom, vai realizando a descoberta das costas africanas, nomeadamente Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique, chegando, segundo o seu caderno de bitácora, em 17 de Abril de 1498 a Calecute, enclave situado no sul do subcontinente indiano, em território que hoje pertence ao estado de Kerala.


Vasco da Gama, que tinha nascido em Sines em 1469 e morreu na localidade indiana de Cochim em 24 de Dezembro de 1524, precisamente ao final da sua terceira viagem a terras orientais, realizou três roteiros: em 1497-98, 1502-04 e 1524 (mês de Setembro). Entre outras terras, realizou a descoberta e exploraçom de Goa (primeira vez em 1498), Damao, Diu, Sri Lonka (de nome antigo Ceilám), Serampore e as terras marinheiras do grande Golfo ou Baía de Bengala no oceano Índico. O que hoje som a Bengala Oriental (Bangladesh ou Purbobangla), estado independente com capital em Daka, e a Bengala Ocidental (Poschimbangla ou West Bengal) estado da República Índia, com capital em Kolkata. Em 1502, Vasco da Gama, com a segunda armada sob o seu comando para a Índia, fez escala em Quiloa. E também descobre a que hoje é a grande cidade de Chôttogram (denominada polos ingleses como Chittagong) em Bangladesh. Existem várias edições do Diário da viagem de Vasco da Gama, que foi o primeiro explorador europeu que pisou terra bengalesa. As suas fazanhas foram glossadas por Camões na sua grande épica Os Lusíadas.


O móbil principal destas viagens de exploraçom apoiadas pola coroa lusitana é a procura da pimenta e também da canela, mas especialmente da primeira. As primeiras viagens som muitas vezes de pilhagem e pirateria. Está documentado que na localidade bengalesa de Dianga, no golfo de Bengala, em 1540 existia uma colónia corsária portuguesa. Em décadas posteriores foram normalizando-se as relações comerciais e desaparecendo a bandidagem e a pilhagem, tema em que colaboraram a coroa portuguesa e os pequenos reinos bengaleses dos mogois mussulmanos. Vasco da Gama teve logo muitos seguidores e continuadores do seu labor de exploraçom. Outros navegantes, também de categoria, foram aprofundando no conhecimento das costas indianas e de países próximos. Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira realiza a sua travessia polo golfo de Bengala e termina por chegar a Malaca. Em 1510 Don Afonso de Albuquer que conquista definitivamente Goa, que foi colónia portuguesa durante 451 anos, até 1961, em que passou a ser um novo estado indiano com capital em Panjim (o seu aeroporto chama-se precisamente «Vasco da Gama»). O mesmo Albuquerque conquista Malaca em 1511. E em 1512 Timor Leste é descoberto.


A presença e influência da língua e cultura portuguesa e por extensom galega foi enorme ademais de em Goa (veja-se o nosso artigo ‘Goa, um recanto galego-português na Índia’, publicado no seu dia em La Región), em Mumbai, Kerala, Sri Lonka (Ceilám) e Bengala. Em Sri Lonka, hoje país independente, com capital em Colombo (e com muitos problemas políticos e de terrorismo) e que pertenceu a Portugal durante 165 anos, a língua singalesa deste país tem nada mais e nada menos que 219 palavras galego-portuguesas. O Bangla, como já comentamos no seu momento, conta com umas 80 palavras do nosso idioma lusófono. Da influência que comentamos dam ideia a presença de muitos dos nossos apelidos, que revelam ademais que os seus possuidores som cristãos: Sousa, Gama, Coutinho, Xavier, Gomes, Alves, da Cunha, Mascarenhas, da Cruz... Temos um exemplo muito claro nesta altura, pois o actual ministro de trabalho e emprego do governo central indiano chama-se Óscar Fernandes. Em Kolkata é normal encontrar-se com pessoas de apelido Gomes, Sousa, Fernandes e Rodrigues.


(*) Professor titular da Faculdade de Educacom de Ourense.



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