Opinión

OS RITOS HINDUÍSTAS CRISTIANIZADOS DE TEIXIDO

Por todo o que lhe tenho contado a ele e os meus amigos hinduístas, nas minhas periódicas estâncias em Santiniketon da Bengala indiana, o estudante Toton Kundu, que se encontra na Galiza desde o passado mes de junho, queria que o levara visitar a formosa paragem do santuário de Santo Andrê de Teixido. O sábado dia 21 de agosto, a primeira hora da manhá, no meu automóvel de marca indiana Tatá, partimos rumbo a Cedeira, alá no cabo do mundo do mar Cantábrico. Atravessamos as lindas terras que vam de Ourense a Cedeira, passando por Lalim, Agolada, Melide, Betanços, Minho, Pontedeume, Fene, Ferrol, Narom, Valdovinho e já em Cedeira colhimos a estrada que leva à serra da Capelada, onde ao lado do mar se encontra o milenário santuário, com umas poucas casas arredor. Precisamente hoje, dia 8 de setembro, como todos os anos, desde tempo inmemorial, por esta data, se celebra no lugar a festa mais importante do ano. E ham ser milheiros os romeiros que em peregrinagem alá iram desde todos os rincoes da Nossa Terra, especialmente se o dia está bom com sol e sem nubens. Agora tambem acudem romeiros vindos dos fisterras celtas europeios, de Bretanha, Irlanda e Escócia. Algúns dos que já nos encontramos na nossa visita de agosto. Porque os ritos ancestrais e milenários daquela paragem única e formosa, estam ligados aos cultos celtas. Aqueles cultos primitivos galegos dos nossos castros e citânias, anteriores ao Cristianismo. Que como todos sabemos, graças às investigaçoes do nosso Cuevilhas sobre o Neolítico e a Idade do Ferro na Galiza e no Noroeste peninsular, vêm inicialmente da Ásia, e em concreto da Índia, terras de procedência dos povos celtas, que emigraram caminho da Europa e chegaram aos nossos fisterras atlânticos. Esta é a raçom pola qual os ritos típicos e seculares, que peregrinos e romeiros professam e cumprem neste lugar tam peculiar, estejam directamente vinculados ao hinduísmo, religiom indiana maioritária e uma das mais antigas do mundo. Para os hinduístas, entre outros muitos princípios, a morte nom é um final senom uma passagem à outra vida espiritual, na que a alma é inmortal. O dito popular 'A Santo Andrê de Teixido vai de morto o que nom vai de vivo', tem um profundo senso hinduísta. Por isso tambem para os galegos e galegas a verdadeira e autêntica peregrinagem é a que se realiza a este lugar, e polo menos uma vez na vida. A peregrinagem a Compostela, ademais de que nom é o apóstolo Santiago senom Prisciliano quem alí está soterrado, nom tem a profundidade e fundo senso da de Teixido. Para os hinduístas tambem existe a reencarnaçom, pola que as almas dos mortos reencarnam-se em outras pessoas e mesmo em animais. Por isso peregrinos e romeiros de Teixido nom podem nem devem matar nenhum animal que encontrem no caminho : cobras, lagartos e lagartixas, pássaros de todo tipo, volvoretas, vagalumes, saltóns, barbantesas, caracois, troitas, moscas e abelhas, cavalinhos do demo e qualquer outro animal. Pois, de seguro, cada um deles leva em sim a alma dum morto, e isto tem um senso hinduísta autêntico e profundo. Os hinduístas acreditam tambem no destino das pessoas, ademais de amar e respeitar profundamente todo o que tem vida. E eu já começo a acreditar no mesmo. Especialmente quando me encontro no destino de Teixido, onde é tambem um prazer olhar as muitas vacas e cavalos, com os seus vitelos, becerros e cavalinhos, espalhados polo monte e a serra. Ou quando baixas a ver a fonte sagrada dos três canos, a erva de namorar e compras o artesanato único das figuras de miga de pam, todas com belo colorido. Assim mesmo todo isto com verdadeiro senso hinduísta, que te lembra os livros sagrados do Bagavad-Guita e os Upanishads. Com os seus lindos relatos e poemas sagrados. Por este motivo um nom se extranha que, quando apareceu o Cristianismo, houvesse que cristianizar esta paragem idílica, de cultos tam paganos, levantando alí um santuário dedicado ao apóstolo Santo Andrê. Para que os galegos continuaram a sua peregrinagem a aquel lugar tam ancestral, onde queira-se ou nom pervivem os cultos hinduístas, da inmortalidade das almas e do amor à vida vegetal e animal. Isto o tinham claro Otero Pedraio, Vicente Risco e Ben-Cho-Shei, que, do 4 ao 11 de julho de 1929, realizaram a sua peregrinagem a Teixido, a pé, saíndo da formosa praça do Ferro de Ourense. Roteiro muito bem contado num lindo livro por Otero, com desenhos de Risco, que eu recomendo ler, da que O Castro realizou uma ediçom facsimilar. O estudante indiano e hinduísta Kundu e mais eu, depois de visitar a igreja e a fonte, e de tirar fotos de estes recantos, ao terminar de comer muito bem no bar popular da localidade e de comprar uns 'sanandreses' (a flor, a mao, a sardinha, a barca, a escada, a coroa, a pomba e o santo), um manojo de erva de namorar e um livro-guia do lugar, regressamos pola linda localidade de Carinho, com o seu porto, a sua praia e o seu mar. Onde, antes de voltar por Ferrol e pola autovia e auto-estrada à minha Aúria, estivemos disfrutando do tempo e da temperatura. Tal como em 1929, fizeram tambem os três ilustres ourensanos da generaçom 'Nós'.

Te puede interesar