Opinión

Santos Júnior e os galegos

O sábado dia 30 de maio, os membros do conselho da AGAL reunímo-nos na formosa localidade portuguesa e transmontana de Torre de Moncorvo. Era a primeira vez que alá iamos e ficamos impressionados pola sua beleza e os seus valores artístico-culturais. Saimos pola manhá desde Santa Marinha de Águas Santas e percorremos lindíssimas terras e lugares. Cheios de topónimos galaico-portugueses. Passamos por Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Murça, Mirandela e Vila Flor e à volta tambem por Valpaços. Na vila moncorvense às 13:00 nacionais, tal e como fora combinado, estavam as autoridades a aguardar por nós, fumos agasalhados com um estupendo jantar pola Câmara Municipal. Que tambem nos obsequiou com publicaçoes e presentes, estando connosco no percurso pola vila à tarde o gentil presidente da mesma, o engenheiro Fernando António Aires Ferreira. Depois de comer visitamos a igreja matriz que é fantástica. Em 1510 começou a ser construída. Terminada em 1638, parece uma catedral. Em 1285 esta bela vila, hoje com mais de três mil habitantes, foi promovida a sede do concelho. O nosso roteiro continuou na impressionante biblioteca municipal, dirigida muito acertadamente por Helena Mª Mano Pontes. Quánto temos que aprender de Portugal em ensino e cultura! Desenhada e organizada polo pessoal da biblioteca, pudemos desfrutar duma grande mostra-exposiçom, com fotos e textos em paineis pendurados das paredes, de todos os escritores e escritoras do mundo que receberam o prémio Nóbel de Literatura. Para fomentar a leitura dos clássicos. Ao lado da biblioteca encontra-se o Centro da Memória de Torre de Moncorvo. E foi aí onde todos recebemos uma grande surpreesa. Algo impressionante e totalmente desconhecido para nós e, desde logo, para o mundo cultural da Galiza. Organizado de forma magistral, está ali depositado o excelente arquivo e biblioteca dum grande amante da Nossa Terra. Estamos a falar do professor doutor Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior. Que fez a doaçom porque de Moncorvo era a sua esposa, embora ele tinha nascido em Barcelos em 1901, e morreu, com 89 anos, em 1990, na Quinta da Caverneira da Maia portuense.


Banhos, Ribeira, Estraviz e quem suscreve, nom davamos crédito ao que alí estávamos vendo. Ali encontram-se as primeiras ediçoes de muitas obras importantes galegas, de literatura, etnografia, cultura popular, arqueologia, história, arte... A primeira ediçom do Terra de Melide, por exemplo, publicada polo Seminário de Estudos Galegos nos anos trinta. Todos os livros estam dedicados a Santos Júnior polos autores galegos. Por Cuevilhas muitos, por Joaquim Lourenço, por Bouça Brei, por Ben-Cho-Shei, por Otero Pedraio, por García Sabell, por Taboada Chivite, por Filgueira Valverde... Conservam-se muito bem ordenadas e registadas as cartas e correspondência que Santos Júnior recebeu de todos estes grandes galegos. Muitas som desse grande galego e ourensano que foi Florentino L. Cuevilhas. Ver para crer, um arquivo e uma biblioteca excepcionais, que visi taremos proximamente com Isaac Estraviz. E estaremos ali vários dias para pesquisar. Porque ademais a vila conta com estupendas instalaçoes turísticas.


O professor dos Santos Júnior, do que nós tinhamos vagas referências polas leituras feitas nos livros das nossas importantes bibliotecas privadas, licenciou-se em Ciências Histórico Naturais na Faculdade de Ciências da Universidade de Porto no ano de 1923. E em 1932 de medicina na correspondente Faculdade da mesma universidade portuense. Em 1923 ocupou como assistente a cadeira de Antropologia desta universidade. Doutorou-se em 1944 e foi professor extraordinário em 1948. Entre 1936 e 1948 realizou em África missoes de estudo antropológico, especialmente em Moçambique. Discípulo do professor Mendes Correia, foi director do Instituto de Antropologia da Universidade de Porto. Os seus estudos e publicaçoes referem-se especialmente a antropologia, etnografia, pré-história e zoologia. Pertenceu à Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, à Sociedade de Geografia de Lisboa, à Associaçao de Arqueólogos Portugueses, à Sociedade Martins Sarmento, ao Institut International d’Anthropologie e à Societé Etnographique de París. Pertenceu ademais como correspondente à Real Academia Galega. Os seus contactos e amizade com os galegos especialistas nos temas do seu largo labor, foram forjados em jornadas culturais luso-galaicas celebradas em Porto, Guimaraes, Compostela e Corunha.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense (Galiza)

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