Opinión

Triste perda do nosso amigo Lozano

A notícia recentemente acaecida do falecemento do ourensano Eloi Lozano Coelho deixou-me cheio de tristura. Eu contava com a sua profunda amizade e ele com a minha desde há muitos anos. Eram tambem muito amigos meus seu pai e sua mai, mestra que foi do colégio de Amoeiro, e já desaparecidos. A notícia colheu-me por surpreesa e aínda nom acredito que Eloi nos deixara fisicamente a causa dum infarto. A Lozano o conhecim por primeira vez a princípios dos anos setenta. Quando chegava de Madrid com o seu flamante título de director cinematográfico. Era um cineclubista exemplar, que nom perdia nenhuma das sessoes do nosso Cine Clube ‘Padre Feijóo’. Ao que em muitos momentos ajudou, orientando sobre filmes e ciclos e participando na organizaçom das Jornadas do Cinema de Ourense. Mesmo a ele se lhe deve que na Casa de Cultura da rua do Concelho pudessemos instalar os projectores de 35 milímetros que foram do Avenida, para continuar durante vários anos com as sessoes cineclubistas. Foi nas Jornadas onde projectamos o seu filme em grande formato ‘Retorno a Tagen Ata’, baseado no livro de Ferrim, e produzido polo carvalhinhés Ismael González. Logo em 16 milímetros realizou um estupendo documentário, do que de forma injusta todo o mundo se esquece. Refíro-me a ‘Os Oleiros’, no que aparecem os nossos artesaos do barro, das comarcas galegas de Luíntra, Sober, Salvaterra e Bunho. Documentário magnífico, merecedor de ser editado em DVD, que projectamos várias vezes nas nossas Jornadas do Ensino de Galiza e Portugal. Mais tarde realizaria Eloi outros filmes e uma longametragem baseada num formoso livro do Nóbel japonês Yasunari Kawabata. Porque Lozano tinha uma sensi bilidade especial para a linguagem icónica. Era um vanguardista e um adiantado em muitos temas. Por isso tambem foi um incompreendido, tanto na nossa cidade como na Galiza. Aínda lembro a ilussom que tinha por pôr a andar o primeiro festival de cinema independente de Ourense, projecto seu que graças ao meu apoio e ao de Bobilho, com todos em contra, foi logo aceitado polo conselho municipal de cultura naquela altura. Infelizmente, por desavenéncias com o inefável ex-alcaide Cabezas, na seguinte ediçom Lozano apartou-se do projecto por ele criado. E o Festival continua daquela maneira, mas nom com a ideia inicial e dilapidando um montom de dinheiro em poucos dias.


De uma das cousas da que mais orgulhoso me sinto nesta cidade que amo, é de formar parte no ano 1975 do grupo Adepende, que com a sua reivindicaçom logrou salvar da piqueta o Teatro Principal da rua da Paz. O grupo formavámo-lo o arquitecto Iago Seara, Eloi Lozano, o pintor Pepe Conde Corbal, que era a alma mater do grupo, e eu mesmo como pedagogo. Maribel Outeirinho apoiáva-nos muito desde as páginas do nosso La Región, e foi tambem inestimável a colaboraçom do Colégio de Arquitectos. Aí foi onde melhor conhecim a valia de Eloi e onde forjei a minha amizade com ele e com os demais do grupo. A salvaçom do Principal merece um artigo monográfico a parte, que no seu momento escreverei. De Eloi lembro muitas cousas positivas e tenho muitas anécdotas, especialmente relacionadas com o cinema, paixom comum em nossos dous. Lozano gostava muito do cinema oriental, igual que eu, de Kurosawa, Mizoguchi, Ozu, Ichikawa, Oshima. Tambem dos grandes como Ford, Welles, Tourneur, Lang, Ray, Kazan, Eisenstein, Renoir, Visconti, Fellini, os Taviani... Como eu, gostava muito do cinema do grego Angelopoulos e do húngaro Jancsó. Há um filme que realmente o entusiasmava, ‘Iluminaçom’ do polaco Kristof Zanussi. E como eu, amava tambem os clássicos e os grandes filmes do cinema mudo.


De forma totalmente injusta Eloi nunca foi apoiado na sua cidade, a pesar da sua grande valia e capacidade criativa. Mesmo Blanco Amor nom lhe cedeu no seu dia os direitos para rodar ‘A Esmorga’. Como Conde Corbal, marchou da nossa cidade com verdadeira desilusom. Incompreendidos, como quem suscreve este artigo, na cidade que amavam, passam a formar parte do grupo que Risco nomeou, fronte aos ‘filisteos’, como ‘inadaptados’. Cecais por ir muito por diante dos demais, por querer a sua cidade e por trabalhar por ela sem descanso. Eloi deixou-nos fisicamente num triste dia de abril. A sua lembrança, o seu poder criativo,a sua amizade, o seu labor, ficarám sempre permanentes na nossa mente e, especialmente, no nosso coraçom. E ham de vir agora a reivindicá-lo os que, podendo ajudá-lo quando o necessitava, declinaram o apoio que bem merecia. Este é o signo que lhes espera aos bons e generosos da Nossa Terra como Eloi Lozano.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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