Opinión

A corna no Caminho da Prata

Estivemos o outro dia no acto de apresentaçom da Guia do Caminho da Prata ou Moçárabe de Sevilha a Compostela. Foi organizado pola Associaçom de Amigos da Via da Prata de Ourense, que preside o nosso amigo José Luis R. Cid. O interessante livro foi escrito por Maribel Outeirinho, que no acto pronunciou um primoroso discurso, do que muito gostamos. O roteiro deste caminho decorre por formosos lugares e por quatro cidades consideradas pola Unesco como “Património da Humanidade”, como som Cáceres, Mérida, Salamanca e Compostela. Também passa pola localidade da Corna do concelho de Pinhor onde eu nasci. Aínda me lembro sendo criança quando me surpreendia o ver passar diante da porta da minha casa muitos peregrinos para Compostela. O mesmo que no mes de junho, pola festa do Corpus, ver os muitos auto-carros engalanados, cheios de romeiros para Ourense. Por tratar-se do lugar onde minha mae Rosa me trouxe ao mundo um mes de abril, quero reivindicar o que por história lhe corresponde a este belo lugar, que conta com uma formosa igreja, construida a finais do século dezaoito polos frades cistercienses de Usseira. Com os seus três altares de pedra, pode considerar-se como a mais perfeita e importante do concelho. Ademais conta com a melhor e mais grande reitoral, tambem toda de granito, das sete parróquias do município. Hoje nom vive nela ninguém e estaria muito bem recuperá-la dando-lhe algum uso cultural. O ideal seria dedicá-la a pousada de romeiros ou peregrinos do caminho moçárabe ou da prata. A propriedade é do bispado ourensano, ao que solicitamos que quanto antes lhe outorgue uma saída, pois o estar sem ocupar nada a favorece, e com o tempo pode ficar na ruína. De que Corna está neste roteiro de peregrinaçom, mesmo quero destacar que a própria Junta da Galiza o reconhece. Pois numa orde do 19 de maio de 2009, publicada no DOG do 2 de junho do mesmo ano, na sua página número 9474, vem citada a de Santa Maria do Desterro na Corna como parróquia situada na Ruta da Prata, no roteiro principal do caminho de Ourense a Compostela.

Eu hónro-me de ter nascido e ser baptizado na igreja da Corna, topónimo que indica ser a minha terra rica em granito. Como me honro em ter como padroa à Virgem do Desterro, da que no templo existe uma formosa imagem. Que eu saiba no mundo só existem as Santas Maria do Desterro do excelente e grandioso mosteiro cisterciense de Alcobaça, colocada numa capela interior do mosteiro, que foi declarado monumento nacional no vizinho país de Portugal. Neste mosteiro português, que aconselhamos visitar, estam soterrados em dous formosos túmulos pétreos o rei Dom Pedro e a rainha Inés de Portugal, rainha galega que reinou depois de morrer, tal como nos conta Castelao no seu Sempre em Galiza. Tambem a da igreja do bairro de Campo Grande em Rio de Janeiro, alguma mais em lugares do Brasil, levadas polos portugueses, a da minha parróquia da Corna, e a primeira de todas no mosteiro de Santa Maria de Oia, à beira do Atlántico, entre A Guarda e Vigo.

A lenda diz que a imagem desta Virgem era venerada em Inglaterra e os protestantes a tiraram ao mar, mas um grande cam a salvou e por mar no seu lombo a levou até as costas da Galiza. Os frades bernardos ou cistercienses, que levantaram o mosteiro de Oia no ano 1231, a encontraram com grande luz e resplandor, a recolheram e, depois de morto, o cam foi enterrado às portas do templo. Em 1589 a imagem levou-se para Salamanca e em 1835 foi entregue às freiras cistercienses do mosteiro salmantino de Santa Maria de Jesús. Certamente a imagem desta virgem, que tem a Jesús em braços, vai sobre um grande cam ou lebrel. A nossa Virgem do Desterro é pois uma virgem propriamente cisterciense, que nom existe em outras congregaçoes ou templos nom relacionados com a Ordem do Cister. Embora as do Brasil, com o mesmo nome, cujo culto foi levado alí polos portugueses, tem mais relacionamento com a pasagem bíblica da fugida de José e Maria com o menino Jesús ao Egipto, escapando da persecuçom de Herodes. Por todo isto solicito à quem corresponda, nomeadamente aos Amigos da Via da Prata, e aos autores da guia do caminho, que coloquem no roteiro o meu lugar, a minha igreja com a sua santa cisterciense e que recuperem como pousada a extraordinária reitoral que alí existe.

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