Opinión

Lembrança do pedagogo Ferrer

De família labrega, o dia 14 de janeiro de 1859 nascia na localidade barcelonesa de Alella o grande pedagogo libertário Francisco Ferrer i Guàrdia. Criador em agosto de 1901, na capital de Catalunha, da Escola Moderna, foi fusilado, sem ter culpa alguma, o dia 13 de outubro de 1909, acusado por um júri militar, carente de todo tipo de garantias, de ser o dirigente da revolta popular da famosa Semana Trágica, surgida em Barcelona o 26 de julho do citado ano. Na que Ferrer nem tam siquera chegou a participar. O seu assassinato teve uma considerável repercussom internacional. Foi protestado de forma multitudinária em toda Europa e, especialmente, em Roma, París e Bruxelas. Nas protestas cívicas falou-se de ‘assassinato legal’, promovido polo clericalismo fanático e os seus aliados militaristas. O mesmo escritor galo Anatole France chegou a dizer que o único crime de Ferrer foi fundar ‘escolas livres’.


Escrevo este pequeno artigo em lembrança dum pedagogo que sempre admirei, um dia antes de cumprir-se o centenário do seu injusto e imoral fusilamento. Provocado por um dos piores males que sempre teve a nossa sociedade: o fanatismo religioso e político-militar. Tantas vezes representado durante séculos pola infame inquisiçom.


Seguidor do pensamento pedagógico do ilustre educador teórico suiço Rousseau e desse grande pedagogo russo que foi León Tolstoi, criador perto de Moscovo, na quinta da sua família, da escola libertária e anarquista denominada ‘Iasnaia Poliana’, a Escola Moderna de Ferrer, em pouco tempo, logrou grande fama e extendeu-se em poucos anos a dezenas de localidades catalanas. Tambem a outras cidades espanholas, como Saragoça e Valéncia. Mesmo em Ourense, na rua Dous de Maio (na que, por certo, eu morei de 1964 a 1971), e logo em Porta da Aira, instalou-se, com modelo pedagógico similar, uma escola laica neutral, criada polos mestres Hipólito Sinforiano Luengo e Teresa Roqueta.


Ferrer começou a interessar-se pola educaçom e a pedagogia no seu exílio na cidade de París. E quando voltou, decidiu criar a sua Escola Moderna. Caracterizada, essencialmente, por ser um modelo edu cativo no que se fomentasse a emancipaçom proletária ou operária. E se eliminasse o controlo e monopólio da educaçom, que tinha a igreja. Que se procurasse prioritariamente a razom e a ciência, como antídotos fronte a todo tipo de dogmatismo, tanto religioso como político. Formando aos estudantes, nenos e nenas e jovens de ambos os sexos, com uma educaçom livre, racional, laica, integral, igualitária e nom discriminadora. Com um currículo que incluia a prática da coeducaçom de sexos, ‘para lograr que, desde a infância, a humanidade masculina e feminina se compenetre’. Tema verdadeiramente revolucionário naquela altura, que os reaccionários nom podiam admitir. O objectivo fundamental de Ferrer era formar verdadeiras pessoas ‘livre-pensadoras’.


Acreditava muito na classe operária e preocupavam-lhe todos os problemas sociais. Ademais de ser profundamente anti-clerical, anti-caciquil e anti-oligárquico. Foi tambem um grande educador paci fista, que fomentou entre os seus alunos o amor pola paz, a liberdade, o entendemento entre todos os povos, a solidariedade, a convivência pacífica, o universalismo, o internacionalismo, as posturas dignas e éticas e os direitos humanos. Na procura do amor entre as pessoas, a amizade e a harmonia entre os seres humanos. Para lograr isto, mesmo chegou a escrever e editar livros próprios para as suas escolas. De leituras sobre ciências, geografia, história, filosofia, sociologia e educaçom para a cidadania. De títulos tam sugestivos como, por exemplo, ‘Ensino científico e racional’ ou ‘Semeando flores’, livro para a leitura na sua escola. Em ‘escolas livres, onde as crianças estudem as causas que mantêm a ignorância popular e conheçam a origem de todas as práticas rotinárias, que dam vida aos reximes totalitários’. Antes de que o oficial pronunciara a voz de fogo para matá-lo, Ferrer berrou: ‘Viva a Escola Moderna!’.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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