Opinión

O paço Thakurbari dos Tagore

Iorasako é um dos bairros mais antigos da grande urbe de Calcuta. Situado no norte da cidade, tem um sabor peculiar. Conserva muitas das antigas tradiçoes, os antigos ofícios e os antigos comêrcios e bazares. Durante o tempo que ficamos nesta cidade, da que cada vez mais gostamos, alojámo-nos na humilde casa dos nossos amigos Prosun e Nita. Isso posibilita-nos disfrutar profundamente dum rueiro cheio de vida. Por ele andam os rishaks a pé com os seus carros, os velhos tranvias e auto-carros. Nele encontram-se as tendas de instrumentos musicais típicos índios. E também as tendas onde vendem iogurte e leite maçado, os saborosos doces bengalíes, os saris e telas de todo tipo e de vivas cores. Os mercados de flores e de frutas, os das verduras e os de incienso de sándalo, lavanda e rosa.


Em cada portal está vivo um ofício artesanal: os ferreiros, os latoeiros, as floristas, os desenhadores de estátuas de mármore, os oleiros, os carpinteiros, os alfaiates e modistas e, especialmente, os que desenham e elaboram as figuras das deusas hinduístas, a maioria dos que tem como apelido Pal. Coincidimos em fevereiro com a festa popular dedicada à deusa Sorosoti, que é a deusa da sabedoria, da educaçóm e da cultura. O bairro énche-se durante estes dias de vida, de colorido, de cantos e alegria. Todos os calcutenhos e calcutenhas vêm a procurar a sua efímera estatua a este bairro. Os nossos amigos comentam-nos que durante a festa dedicada à madre deusa Durga no mes de outubro, a mais importante do ano, o ambiente aínda é mais extraordinário. O último dia numerosos grupos levam a sua ’santa’ para deitar no rio Hugli próximo, afluente sagrado do Ganges. Tudo é acompanhado de grupos musicais, de rondalhas e de charangas. Isto lémbra-nos mesmo o nosso entroido e carnaval em clave ’sagrada’.


Outra das cousas que muito gostamos do bairro é a ida e vinda de vendedores ambulantes de todo tipo, que pregoam cantando as mercadorias que oferecem ou os arranjos de cousas caseiras que fazem. Entre eles destacam os que dim recolher todo tipo de objectos usados dos fogares.


O paço Thakurbari, palavra que significa ’Casa do Senhor’, foi durante muitas décadas um centro cultural impresionante na velha cidade de Calcuta Na Índia, e em Calcuta em particular, recícla-se quase todo. E dos desperdícios dam conta também os inúmeros e ecológicos corvos que povoam esta urbe.


No coraçóm do bairro do que estamos a falar está situado, ademais do fermoso paço de mármore, com uma impresionante colecçóm de arte occidental, o paço da família Tagore chamado Thakurbari. Tráta-se dum grandioso prédio de cor vérmelha, rodeado dum amplo jardim. O conjunto destaca muito entre as antigas casas do bairro. O paço foi construído polo avó Darokonath, patriarca da família, a finais do século dezaoito. Nele viveram os membros da amplíssima família Tagore: os filhos e netos deste grande mecenas e entre eles Devendronath, que tivo uma excelente e numerosa prole com Robindronath à cabeça e catorze filhos mais. Todos eles pessoas de grande cultura que chegaram a ser escritores, músicos, juízes, educadores, jornalistas e, como tais, directores de muitas publicaçoes, a maioria em bengalí. O seu paço Thakurbari, palavra que significa ’Casa do Senhor’, foi durante muitas décadas um centro cultural impresionante na velha cidade calcutenha. No que todas as semanas do ano havia tertúlias, representaçoes teatrais, audiçoes musicais, concertos, veladas e conferências. Semelhante a uma verdadeira universidade popular aberta. O paço, que tem diante uma grande estátua de Tagore e um busto do seu pai, alberga hoje uma livraria, o museu de pintura mais importante da escola pictórica de Bengala, com Obanindronath, Gogonondronath e Nondolal Bose como os mais destacados da mesma, uma excelente biblioteca e arquivo, o reitorado da Universidade chamada Robindro-Bharoti, várias aulas e os numerosos quartos da vivenda ocupada pola família com os móveis e objectos originais. Agás os lúns, todos os dias da semana pola tarde-noite hai um espectáculo de luz e sóm, em bengalí e inglês, nos jardíns do paço. Recentemente foi acondicionado este grande paço e ampliado o seu museu tagoreano. Este lugar é de visita obrigada para os que viajam à cidade chamada agora Kolkata.


(*) Professor da Faculdade de Educaçom de Ourense

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