Opinión

Ourensanos nas misiones pedagógicas

Eu som grande admirador do pedagogo Cossío da ILE. Ao que considero o melhor pedagogo da história do nosso país. Porque amava as artes e a natureza e porque desejava uma sociedade feliz, com princípios éticos. E porque lhe dava uma grande importáncia à educaçom e aos mestres e educadores. Desde finais do século dezanove tinha uma ilusom. Era esta a de levar polos povos rurais a cultura, de forma lúdica, artística e atractiva, que denominava educaçom difusa. Essa ilusom só a pudo ver na realidade em 1931, com a instauraçom da Segunda República. Já tenho escrito mais de uma vez e em vários artigos sobre as Missoes Pedagógicas. Das que a alma mater foi o pedagogo antes citado. Natural de Haro, mas muito ligado à nossa Galiza. Em Sam Fiz de Vijoi, do concelho corunhês de Bergondo, compartia um paço familiar com o grande pensador e professor galego Joam Vicente Biqueira. Alí passava todos os veraos com a sua família, e ali escreveu a sua importante monografia sobre O Greco. No verao de 1933, como presidente do Padroado, nomeou ao rianjês Rafael Dieste, director da primeira Missom Pedagógica por Galiza. Que, de 11 de agosto a 17 de dezembro, percorreu a Nossa Terra levando cultura aos lugares mais apartados. Entrou por A Mezquita em A Gudinha e terminou em O Barco de Val de Orras. Ademais destas localidades estuveram os missionários nas ourensanas de Ginzo, Alhariz, Maside, Carvalhinho e Quiroga. Sem contar as das outras províncias galegas polas que passou a comitiva, estando três dias em cada localidade. Com livros variados em bibliotecas ambulantes, conta-contos, mostras artísticas, leituras públicas, audiçoes musicais, canto coral, cinema documental e cómico de Chaplin, jogos populares, conferéncias e charlas, teatro e títeres.


A vinculaçom de Ourense com esta acti vidade pedagógica republicana foi muito importante. A finais de agosto de 1933 incorporou-se à missom galega, na nossa cidade, o escritor e artista Cándido Fernández Mazas, colaborando com Dieste no desenho dos decorados teatrais e dos bonecos para os títeres ou fantoches. O seu formoso cartaz para o Retablo de Fantoches das Misiones Pedagógicas, terminou por ser o oficial do Padroado das Missoes para esta actividade tam singular, que se iniciou no porto de Malpica em outubro do ano antes citado. E que teve logo muito sucesso em todas as localidades do roteiro e nas restantes missoes celebradas. Em algumas das actuaçoes Mazas tambem desenvolveu algum papel nas obras cenificadas, muitas da autoria de Dieste. De ideologia libertária, como Mazas, sumou-se tambem em Ourense à missom o escritor António Ramos Varela. Natural de Ferrol e com morada em Compostela, alguma informaçom errada considerava-o ourensano. O poeta-mártir ourensano Manuel Gómez del Valle, baixo o título de As Misiones Pedagógicas, o Museu do Povo e os seus animadores, publicou no número de setembro de 1933, da revista da ATEO Escuela de Trabajo, um interessantíssimo artigo sobre os missionários, Dieste e seus colaboradores. O mencionado artigo está ilustrado com caricaturas dos educadores ambulantes da missom, realizadas polo próprio Dieste e polo pintor Ramón Gaya. Houve missoes em numerosos lugares de Espanha, e na Galiza em várias comarcas como Entrimo, Riba d’Ávia, A Caniza, Muros, Serra d’Outes, Ponte Vedra...Ademais de ciclos de conferências dominicais, sobre temas culturais e científicos variados, em numerosas localidades ourensanas e galegas. Nestas actividades colaboraram, por exemplo, ilustres ourensanos como Cuevilhas, Risco, Otero Pedraio, Ben-Cho-Shei e a inspectora de ensino Maria Cid. Tambem o inspector Couceiro Freijomil, embora nascido em Ponte d’Eume, com destino na nossa cidade e província.


Mas, o primeiro ourensano incorporado às Missoes, dirigidas por Cossío e criadas pola República, foi o grande cineasta galego Carlos Velo Cobelas. Natural de Cartelhe, filho do médico da localidade, o próximo 15 de novembro vai cumprir-se o centenário do seu nascimento. Em breve escreverei um artigo sobre a sua pessoa, que bem merece pola sua valia humana e intelectual. Ademais eu conhecim a Velo persoalmente, quando veu em 1977, do seu exílio mexicano, para participar na quinta ediçom das Jornadas do Cinema de Ourense, celebradas a princípios de abril. Nas que se projectaram os seus filmes Torero, Universidade Comprometida e Homenaje a León Felipe. Lembro que o levei no meu auto ao seu povo e casa de Cartelhe. E logo ao aeroporto santiaguês para a viagem de volta a México. Aínda conservo na minha casa um formoso tapiz mexicano que nos regalou à minha esposa Ana e a mim. Como estudante de Biologia na Complutense, sendo representante da Federación Universitaria Escolar (FUE), e comisário geral da Unión Federal de Estudiantes Hispanos (UFEH), participou já na primeira missom pedagógica histórica. A celebrada no mes de dezembro de 1931 na localidade segoviana de Ayllón. Tal como se destaca no jornal El Sol, de data 17-12-1931, para impartir conferências culturais. Leva dous projectores de cinema, um mudo e outro sonoro, e ilustra as suas charlas projectando três documentários : Loita pola existência, Higiene e A enfermidade da Tuberculose. Com este meu artigo fica demonstrado que o primeiro missionário pedagógico ourensano, colaborador de Cossío, foi Carlos Velo.


(*) Professor Numerário da Faculdade de Educaçom de Ourense

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