Leal oposição

Publicado: 28 sep 2025 - 05:18

José Paz
José Paz

Nesta semana, os medios de comunicação contrários ao Sr. Sánchez abrem as suas primeiras páginas ou os seus noticiários bem com informações sobre a evolução dos processos penais que têm de enfrentar pessoas do seu círculo familiar ou político, ou bem criticando a má gestão dos seus ministros, atuais ou passados, em casos como o das pulseiras de proteção para mulheres maltratadas ou a falta de controlo dos serviços ferroviários. São temas, sem dúvida, de grande importância social, alguns realmente preocupantes, como o das pulseiras, que revelam não só incompetência e má gestão, mas também uma verdadeira falta de interesse pelos problemas dos mais indefesos, apesar de toda a retórica usada para justificar orçamentos milionários para o Ministério da Igualdade. A comunicação da crise, tentando minimizá-la, também não demonstra muita empatia com as afetadas. A oposição, especialmente a do PP, já que a liderança do VOX tem mostrado, até agora, um perfil discreto, encontrou nelas uma mina de ouro, que parece nunca deixar de oferecer novos temas, para desgastar o governo, e dedica-se a essa tarefa com entusiasmo, como se pode verificar tanto nas suas intervenções parlamentares como em numerosas declarações à imprensa por parte dos seus porta-vozes.

A questão não é fazer oposição a estes temas, o que deve ser feito, mas sim se isso é suficiente para levar a cabo um verdadeiro trabalho de oposição. Imaginemos que o presidente Sánchez não tivesse sido envolvido em grandes escândalos de corrupção, ou que as pulseiras não tivessem causado problemas, mas mantivesse as suas políticas públicas e a sua forma de governar. Tudo estaria bem então? Não há políticas alternativas por parte da oposição? Que medidas concretas seriam revogadas? Não se pode ilusionar o eleitorado apenas com a idea de que, com um novo governo, se manteria mais ou menos o que ja existe, só que melhor gerido e com menos corrupção. Isso pode até ser pior, porque uma má política bem gerenciada multiplica os danos que causa, pois é mais eficaz na sua aplicação. As medidas intervencionistas de Sánchez agora seriam cumpridas, pois o único que se discute é a sua eficácia. O discurso que se ouve é o da «oposição leal», em que o que se critica não é o que se faz, mas a forma como se faz, de tal forma que um futuro governo manteria o essencial das políticas atuais, mas bem executadas. Não cabe maior lealdade ao atual governo.

O PP, ao contrário do VOX, não é capaz de introduzir novos debates na agenda e, se continuar assim, o seu destino poderá ser semelhante ao da direita francesa ou britânica, que, sem um discurso próprio, acabam por ser fagocitadas a médio prazo pela extrema-direita. Pode-se concordar ou não com as propostas do VOX, por exemplo, sobre a emigração, mas não há dúvida de que, com insistência e sem se importar com o que dirão, conseguiu introduzir o debate na agenda política. O problema para o PP é que, ao não definir os marcos do debate nem ter um discurso próprio, acaba por ser arrastado, seja para as posições da VOX, seja para as socialistas, e adotar qualquer uma delas pode ser letal para os seus interesses. O mesmo pode acontecer em muitos outros temas. As estratégias de moderação e de tentar captar votos moderados do rival podem fazer sentido num sistema bipartidário, mas não no atual, com quatro, ou cinco se contarmos com os nacionalistas, espaços mais ou menos definidos. A « leal oposição » tem muitos temas, como o económico, que poderiam servir para articular um discurso próprio, que marque as agendas e entusiasme de alguma forma o seu eleitorado. Um bom opositor não vive apenas de gestão.

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